sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Cunhado de Roseana Sarney recebeu informações sobre operação, diz Polícia Federal


A Polícia Federal apontou, em documentos que constam da investigação deflagrada nesta quinta-feira (6), que o ex-secretário de saúde do Maranhão, Ricardo Murad, que é cunhado da ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB-MA), e foi homem forte de sua administração até 2014, recebeu "informações privilegiadas" sobre uma operação da Polícia Federal que ainda tramitava em segredo de Justiça, em 2015. Nesta quinta-feira (5) foram deflagradas duas fases (Abscôndito e Voadores) derivadas da Operação Sermão aos Peixes, deflagrada em 2015 para investigar desvios de recursos públicos na saúde do Maranhão. A Justiça levantou o sigilo da documentação. Ao longo da apuração, empresários investigados que estavam com seus telefones interceptados com ordem judicial mencionaram reuniões e contatos com pelo menos um deputado federal e um deputado estadual para saber como proceder nos dias anteriores à ação da Polícia Federal. "Durante a execução desta medida cautelar, nosso escritório de análise (da Polícia Federal) percebeu uma série de indícios de que os investigados souberam antecipadamente da deflagração daquela operação e agiram para destruir e/ou ocultar provas", informou, ao Judiciário, a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e a Desvio de Recursos Públicos da Superintendência da Polícia Federal do Maranhão. No dia 11 de agosto de 2015, três meses antes da deflagração da Sermão aos Peixes, o ex-secretário escreveu em sua página em uma rede social os nomes das empresas e o número de pessoas que seriam "alvos" da operação. Nesse período, segundo a Polícia Federal, a operação "caminhava para sua fase final". "Tomei conhecimento hoje, por fontes muitíssimas bem informadas no Palácio dos Leões (sede do governo estadual), de uma operação da Polícia Federal na iminência de ser deflagrada com entusiasmo e conhecimento prévio do governador Flávio Dino e de seu irmão Nicolao Dino, subprocurador geral da República", escreveu Murad. Ele também indicou duas organizações não governamentais, a ICN e a Bem Viver, que de fato foram objeto da operação. Segundo Murad, seriam "desnecessárias medidas espetaculares e midiáticas que servem apenas para constranger, uma vez que eu — e pelo que sei, todos que comigo trabalharam diretamente — sempre me coloquei à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos". No mesmo dia 11, Murad peticionou à 4ª Vara Federal de Tocantins para dizer que estava à disposição "para qualquer esclarecimento". Segundo o ex-secretário, ele tomou conhecimento de que "possivelmente" tramitava "algum procedimento administrativo criminal, inquérito policial, ação penal". Para a Polícia Federal, essa movimentação de Murad teve caráter "em tese, lícito", porém outros investigados, a partir do mesmo vazamento, "extrapolaram o direito à autodefesa e teriam sido praticadas, de forma consciente e voluntária, com a finalidade específica de impedir e embaraçar a investigação sobre a organização criminosa especializada em desviar recursos públicos federais destinados ao sistema de saúde do Estado do Maranhão". Segundo a Polícia Federal, a investigação "deparou com diversas outras conversas que citam a ocorrência de reuniões políticas para tratarem da operação que ainda seria deflagrada". Tudo teria ocorrido "desde a divulgação por Murad de detalhes da operação em 11 de agosto de 2015". A Polícia Federal apontou que um dos principais investigados também se livrou de parte de seu patrimônio após a deflagração da operação. O Cobra (Centro Oncológico Brasileiro) possuía duas aeronaves, um Embraer 810D e um Beech Aircraft G58. No dia 19 de novembro de 2015, três dias após a deflagração da operação, contudo, o Cobra transferiu a propriedade do Beech. A Polícia Federal também desconfiou do valor da transação. Em 27 de maio de 2013, o avião fora adquirido por R$ 2,5 milhões. Dois anos depois, porém, o mesmo avião foi vendido por R$ 402 mil. O avião foi apreendido nesta quinta-feira (6). Segundo a Polícia Federal, há "indícios veementes" de que o avião foi comprado, em 2013, "com recursos públicos federais desviados" de uma ONG, a Bem Viver.

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