quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Propineira delatora da Operação Acrônimo diz que pagou para obter contratos em ministérios


A empresária Danielle Miranda Fonteles, dona da agência de propaganda Pepper, afirmou em delação premiada à Polícia Federal que foi contratada pela agência de publicidade Agnelo Pacheco, em contratos nos ministérios da Saúde, Cidades e Turismo por volta de 2011, em troca de pagamento de propina ao empresário do setor gráfico Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené. O ex-diretor da Agnelo Brasília, Agnelo de Carvalho Pacheco, filho do dono da agência de publicidade, é um dos alvos de condução coercitiva na 11ª fase da Operação Acrônimo, autorizada pela 10ª Vara Federal de Brasília e deflagrada nesta quinta-feira (27). A Agnelo Pacheco é uma das principais agências de publicidade do País que nos anos 2000 deteve a conta da prefeitura de São Paulo na gestão da prefeita socialite Marta Suplicy, então no PT, e depois prestou serviços ao governo do Rio de Janeiro no mandato de Sérgio Cabral, do PMDB. Conforme os relatórios da Polícia Federal e do Ministério Público Federal enviados ao juiz que autorizou a operação, Ricardo Augusto Soares Leite, a empresária propineira Danielle Miranda Fonteles declarou que Bené, empresário do setor gráfico ligado ao governador de Minas, o ex-terrorista trapalhão Fernando Pimentel (PT), intermediou "facilidades da empresa Agnelo Pacheco" junto ao Ministério da Saúde no ano de 2011. Bené teria utilizado a empresa Pepper e outra controlada por ele, a Lumine, "na ocultação e dissimulação da origem de dinheiro para emissão de notas fiscais ideologicamente falsas (lastreadas em serviços que nunca foram prestados)", no valor aproximado de R$ 1 milhão. Segundo o depoimento da propineira Danielle Miranda Fonteles, na delação premiada, Bené, que também se tornou delator na Operação Acrônimo, ofereceu a ela uma campanha denominada "Combate à dengue", a ser desenvolvida pela Saúde. Na época, o coordenador de comunicação no ministério era Marcier Trombiere Moreira. Para assumir a campanha, segundo Danielle Miranda Fonteles, a Pepper seria uma subcontratada da Agnelo, que detinha parte da conta geral do ministério. Em troca, Danielle pagaria cerca de R$ 200 mil a Bené por meio de outra empresa, a Lumine. Na delação, a empresária propineira Danielle Miranda Fonteles contou que nunca se reuniu "com algum responsável" da agência Agnelo para qualquer reunião técnica sobre a campanha de combate à dengue e que "o contato que existiu foi somente para emissão das notas fiscais". Danielle disse ter feito o pagamento a Bené por meio de dois cheques para a Lumine, controlada por Bené e registrada em nome de dois de seus irmãos. Para justificar a entrada do dinheiro, Bené emitiu dois notas fiscais "frias", "referentes a serviços que nunca foram prestados". A Polícia Federal varreu as contas bancárias de Danielle e confirmou que a Pepper pagou um total de R$ 283 mil para a Lumine, por meio de dois cheques. O mesmo esquema, segundo Danielle, foi empregado em outros dois ministérios em vinculação com contas de publicidade da Agnelo Pacheco. No Ministério das Cidades, ao ser chamada para a campanha "Mãos ao volante", a Pepper recebeu R$ 310 mil do ministério após intermediação de Bené. No Ministério do Turismo, Danielle recebeu R$ 332 mil relativos à campanha "6º Salão do Turismo". Pela "captação" do contrato, Danielle deu a Bené dois cheques, um de R$ 53,9 mil e outro de R$ 73,8 mil. No segundo caso, Bené entregou a Danielle duas notas fiscais da empresa VCB Mídia Exterior Serviços de Comunicação Visual Ltda. Danielle confirmou que as notas eram "ideologicamente falsas", pois não prestou serviços para essas empresas. Com o andamento das investigações, a força tarefa da Acrônimo concluiu que as informações prestadas por Danielle acerca das licitações nos três ministérios "divergem em parte" das informações prestadas pelo também delator da Acrônimo, Bené. A divergência "se dá no tocante à participação do agente público Marcier Trombiere, bem como a narração da participação das partes no fato crime ora exposto". No caso da Saúde, por exemplo, Danielle disse que foi procurada por Bené e que ele intermediou a entrada da Pepper no projeto no ministério, o que levou ao pagamento de R$ 283 mil a Bené, enquanto o empresário gráfico disse que ele é que foi procurado por Danielle para que ajudasse no assunto, recebendo em troca R$ 250 mil. Para tentar solucionar essas discrepâncias, nesta quinta-feira (27) Bené também foi conduzido coercitivamente para depoimento na Polícia Federal.

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