quinta-feira, 17 de novembro de 2016

‘Ele socava a mesa. E repetia que o dinheiro é lícito. Eu acreditava’, diz a mulher de Eduardo Cunha

Cláudia Cruz afirmou em depoimento na 13ª Vara Federal de Curitiba que toda a gestão financeira do casal cabia ao marido, o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que ela não sabia que o cartão de crédito que possuía na Suíça, para gastos no Exterior, era vinculado a uma conta. Cláudia foi orientada pelo advogado Pierpaolo Bottini, para não responder a perguntas do juiz Sérgio Moro e do Ministério Público, apenas às questões formuladas pela própria defesa. Cláudia disse que não tinha a “menor ideia” da origem dos recursos da conta, a qual seu cartão de crédito estava vinculado, e que o casal sempre teve uma vida próspera. Ela também disse que nunca recebeu qualquer extrato e que não procurava saber, porque confiava em Eduardo Cunha. O advogado perguntou então se em algum momento ela conversou sobre a origem do dinheiro do marido. "Quando as noticias saíram, ele ficava sempre muito bravo, socava a mesa. E sempre repetia "o meu dinheiro é lícito". Eu acreditava. Não tenho motivo para desconfiar". O advogado insistiu e perguntou então se mesmo enquanto jornalista não tinha curiosidade de saber de onde vinham os valores, ela respondeu que em casa era apenas mãe dos filhos do ex-deputado: "Veja bem, em casa eu não era jornalista. Era mãe dos filhos e ele (Cunha) meu marido. E ali não tinha ninguém fazendo entrevista ou perguntando", afirmou Cláudia Cruz. Perguntada sobre inconsistências em seu Imposto de Renda, ela disse que antes do casamento, quem fazia sua declaração era o pai e que, quando casou, foi Eduardo Cunha quem assumiu a tarefa. "Ele fazia toda a gestão financeira. Eu sempre confiei plenamente. Se é prudente ou não, eu sempre confiei". Sobre uma possível incompatibilidade no patrimônio de Cunha com os rendimentos de um deputado federal, a jornalista afirmou que Cunha tinha patrimônio oriundo de investimentos em bolsa de valores e no mercado imobiliário. Ela também negou qualquer hipótese de mudança no padrão de vida do casal após a entrada de Cunha na política. Após prestar depoimento ao juiz, Cláudia visitou o marido na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. A versão apresentada a Moro difere do depoimento que a mulher de Cunha prestou ao Ministério Público Federal em abril passado. Ao falar aos procuradores, ela disse que a abertura da conta havia sido sugerida por Eduardo Cunha para custear as despesas dos filhos no Exterior. Disse que ele levou os documentos para que assinasse. Bottini afirma que, quando prestou depoimento ao Ministério Público Federal, Cláudia já sabia da existência da conta porque o bloqueio de valores já havia ocorrido. A conta Kopek, no banco Julius Baer, teve US$ 140 mil dólares bloqueados no dia 17 de abril de 2015 — um ano antes do depoimento de Cláudia aos procuradores. O interrogatório feito apenas pelo advogado de defesa durou cerca de 20 minutos. Depois da audiência, Cláudia Cruz visitou o marido na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. O advogado afirmou ainda que Cláudia Cruz disse na audiência que Eduardo Cunha e o contador dele cuidavam, inclusive, das declarações de Imposto de Renda. Antes de casar com Cunha, disse a jornalista, quem fazia o Imposto de Renda era o pai dela. "O padrão de vida de Cunha era alto antes mesmo de eles passarem a viver juntos. Ela confiava nele. Os dois viveram juntos mais de 20 anos e tiveram uma filha. Não havia motivo para ela duvidar da origem do dinheiro dele. Cunha sempre disse que tinha aplicações no mercado financeiro e imobiliário. Foi isso que ela contou na audiência", disse Bottini. Cláudia Cruz é acusada de lavagem de dinheiro pelo Ministério Público Federal. Os procuradores afirmam que Cláudia mantinha uma conta secreta na Suíça, denominada Kopek, que recebeu US$ 165 mil oriundos de propina de um contrato da Petrobras para exploração de petróleo em Benin, na África. Na ação, o advogado argumenta que o simples fato de não declarar a conta na Suíça à Receita Federal no Brasil não configura lavagem de dinheiro, mas apenas evasão de divisas. 

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