segunda-feira, 27 de março de 2017

Rio Grande do Sul perdeu 521 leitos pediátricos em seis anos


O Rio Grande do Sul perdeu 521 leitos pediátricos ao longo dos últimos seis anos, o que representou queda de 17% nas vagas de internação para crianças e adolescentes de até 18 anos entre 2010 e 2016. O levantamento, feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) a partir do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, inclui leitos próprios e conveniados, e preocupa especialistas. De acordo com a chefe da UTI pediátrica do Hospital Santo Antônio e médica da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, Cláudia Ricachinevsky, o reflexo dessa situação é um número cada vez maior de crianças em lista de espera para serem atendidas — muitas delas em situação grave. "Existe uma central de leitos que atualiza a lista de pacientes todos os dias. São pacientes, principalmente do Interior, que precisam ser transferidos para Porto Alegre pela falta de vagas em outras cidades. Todos os dias recebo cerca de quatro solicitações para pacientes pediátricos, e esse número chega a dobrar no inverno. Essa lista foi aumentando ao longo dos últimos anos", explica a médica. Para Cláudia Ricachinevsky, o principal problema que atinge não só o Estado, mas também as demais regiões do País, é a falta de repasses do Sistema Único de Saúde aos municípios, cuja tabela não tem reajuste há muito tempo e é defasada em relação ao custo dos pacientes pediátricos: "São internações que requerem equipamentos, medicação, alta tecnologia. E realmente a remuneração do SUS é insuficiente. Muitos hospitais do interior do Estado estão quebrando por causa disso, o que acaba sobrecarregando os da Capital". De acordo com o levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria, em 2010 o Estado possuía 3.660 leitos pediátricos. Em 2016, o número caiu para 3025. Destes, 2.909 eram do SUS, e hoje são 2.388. Ou seja, todas as vagas fechadas no Estado foram do SUS. Ainda segundo Cláudia, outra situação que aumentou a defasagem de leitos para pacientes pediátricos foi uma mudança nas diretrizes do Ministério da Saúde, que até pouco tempo permitia a internação de crianças em UTI neonatal. Hoje, esta área é restrita para recém-nascidos. Apesar de crítica, a situação do Rio Grande do Sul não é tão grave como a de outras regiões do País. Na média nacional, a queda no número de leitos foi superior a 20%. Entre 2010 e 2016, mais de 10 mil leitos de internação em pediatria clínica foram desativados na rede pública. Em números absolutos, os Estados das regiões Nordeste e Sudeste foram os que mais sofreram redução no período. Santa Catarina teve uma queda de 34% no número de leitos durante o mesmo período, e São Paulo, de 24%. Em relação às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais, faltam no Brasil 3,2 mil leitos, segundo parâmetro da Sociedade Brasileira de Pediatria. A presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Luciana Rodrigues Silva, também atribui a situação à falta de investimento do Ministério da Saúde na área.

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