sexta-feira, 14 de abril de 2017

A conta de luz virou um eletrocardiograma

 

Poderia ser a oscilação da Bolsa de Valores de São Paulo num dia de forte estresse no mercado financeiro ou o eletrocardiograma de um paciente em condição crítica, mas essa montanha-russa de altos e baixos exibida acima é a variação da tarifa de energia desde 2012. A comparação não é a toa: planejar os gastos com a conta de luz se tornou tarefa que exige nervos de aço de investidor combinados à paciência de um doente em período de convalescença. Eternamente dependente do regime de chuvas, o setor elétrico ganhou um componente a mais de risco no fim de 2012, quando o governo decidiu forçar uma queda de 20% no preço da tarifa por meio da renovação antecipada de contratos das concessionárias, com a medida provisória (MP) 579. Nem todo mundo topou e ainda faltou combinar com São Pedro. No ano seguinte, a conta, de fato, caiu 15,66%, de acordo com dados do IBGE, mas o alívio foi temporário. Logo em seguida, os efeitos do aumento do consumo, que já ficou no passado, e de uma forte seca levaram a uma escalada de preços. Em 2015, a tarifa subiu 51%. Ano passado, diante da maior recessão da história do País, a conta caiu 10,66%. Desde então, acompanhar o noticiário do setor se tornou tarefa que requer a dedicação de um aficionado. Dá para lembrar com nostalgia do tempo em que bastava encarar o banho frio ou dormir no calor para economizar no fim do mês. Ou que algum parente gritava que não era sócio da distribuidora ao mandar desligar a lâmpada da cozinha. O alívio durou pouco. Com a falta de chuvas e o aumento do consumo, a tarifa fechou 2015 com alta de 51%. A própria conta já dá pistas do quanto o modelo do setor elétrico é complexo. Ao lado do valor total da tarifa, é possível conferir qual foi o montante desembolsado para gerar energia, transmitir, distribuir, além do total pago em encargos setoriais e impostos, como PIS, Cofins e ICMS. À sopa de letrinhas foi adicionado um ingrediente a mais a partir de 2015, a bandeira tarifária. A proposta era justamente dar mais previsibilidade ao consumidor, de modo a compartilhar o aumento de custos na geração de energia. Bandeira vermelha é sinal de que foi necessário recorrer a usinas termelétricas, mais caras e, normalmente, mais poluentes. 

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