sexta-feira, 14 de abril de 2017

Eliseu Padilha, o "Bicuíra", recebeu R$ 1,49 milhão de propina na Trensurb, segundo Odebrecht


Um dos alvos da lista de Fachin, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, apelidado de "Bicuíra", teria recebido R$ 1,49 milhão da Odebrecht em relação à obra de extensão da linha do Trensurb entre São Leopoldo e Novo Hamburgo. O repasse teria ocorrido em 2010, dividido em sete parcelas, conforme registros do setor responsável pelos pagamentos de propina da construtora. O peemedebista era deputado federal à época. Na petição enviada ao Supremo Tribunal Federal, que resultou na abertura do inquérito 4.434 sobre a obra no Rio Grande do Sul, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, identifica os supostos repasses a Padilha, identificado pelo codinome Bicuíra pela Odebrecht. Os valores seriam referentes a 1% do contrato do empreendimento. O documento também traz pagamentos referentes à Trensurb a outros investigados no mesmo caso. Há o registro do repasse de R$ 734,7 mil ao deputado petista Marco Maia (codinome "Aliado"), R$ 934,5 mil ao ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo ("Filósofo"), R$ 260,3 mil a Marco Arildo ("Sucessor") e R$ 38,7 mil a Humberto Kasper, ambos ex-presidentes da Trensurb. O esquema envolvendo os gaúchos foi citado nas delações de dois ex-dirigentes da Odebrecht, Benedicto Junior e Valter Lana. No total, conforme os executivos, a extensão da linha do Trensurb foi alvo de três pedidos de pagamentos de propina entre 2008 e 2009: um de Padilha; um de Maia, Arildo e Kasper; e outro de Paulo Bernardo. Juntos, eles teriam recebido R$ 3,45 milhões da construtora. As cobranças ocorreram a partir do início das obras, que enfrentaram restrições do Tribunal de Contas da União (TCU). "Os pagamentos foram feitos para o codinome Bicuíra, do deputado Eliseu Padilha, em sete parcelas, no total de R$ 1.490.000,00 até 2010. O percentual da propina foi de 1% sobre a parte deles no contrato", disse Benecdito. Lana, por sua vez, afirmou que o dinheiro dos gaúchos foi entregue por meio do doleiro "Tonico". "Os pagamentos dos gaúchos, Padilha, Marco Maia, Marco Arildo e Kasper, foram todos equacionados através do doleiro Tonico", relatou o dirigente aos investigadores. Tonico é a alcunha de um doleiro porto-alegrense. Antônio Albernaz Cordeiro foi preso em 2016 na Operação Xepa, 26ª fase da Lava-Jato, e solto posteriormente. Em depoimento à Polícia Federal, ele admitiu que viabilizou repasses destinados a políticos em Porto Alegre a pedido da Odebrecht. Lana também detalhou a forma como o dinheiro teria chegado a Padilha. Segundo ele, o peemedebista o procurou para cobrar o pagamento de 1% sobre o valor da obra, com o argumento de que ele teve participação nas tratativas que viabilizaram o empreendimento, licitado em 2001. No período, Padilha era ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique.  
O delator afirmou que o gaúcho indicou uma pessoa que trabalhava com ele para receber os valores, identificada por "Ibanez". É hoje o presidente do Grupo Hospitalar Conceição, a maior estatal federal no Rio Grande do Sul, dona de quatro hospitais inteiramente dedicados ao atendimento do SUS e com um orçamento que é o segundo do Rio Grande do Sul. O intermediário da construtora é citado como Nilton Coelho, funcionário da empresa. "No caso do Eliseu Padilha, não era eu, mas o Nilton que entregava para uma pessoa de nome Ibanez, que trabalhava com ele (Padilha), no escritório político dele", revelou Lana. Padilha prestigiou a posse da nova diretoria do GHC em julho do ano passado. No site da filial gaúcha da Fundação Ulysses Guimarães, Ibanez aparece como tesoureiro. Em âmbito nacional, a entidade é um centro de estudos do PMDB e foi presidida por Padilha de 2007 a 2015. Nos casos dos pagamentos aos outros políticos, os delatores detalharam que Maia teria solicitado percentual sobre a medição da obra do Trensurb. No rateio, o deputado ficaria com 0,5% do valor, Marco Arildo com 0,5% e Kasper com 0,25%. Já o pagamento a Paulo Bernardo também seria de 1%, e teria ocorrido sob a promessa de incluir o empreendimento no PAC. A ampliação do Trensurb já é alvo de investigação do Ministério Público Federal desde 2011, por suspeita de superfaturamento na obra, cujo início em 2001 tinha um orçamento de R$ 270 milhões. Quando a ampliação foi concluída, em 2014, o custo final ficou em R$ 953 milhões, depois de aditivos contratuais. 

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