sábado, 8 de abril de 2017

Estudo petista conclui que eleitorado não compartilha visão de luta de classes, base doutrinária do PT


Manifestações de líderes ou militantes petistas muitas vezes têm como marca críticas a medidas liberalizantes na economia, conclamando trabalhadores a lutarem contra os interesses das elites. Pesquisa recém-divulgada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, revela que muito do discurso não encontra respaldo entre eleitores pobres que já votaram na sigla. O centro de estudos entrevistou 63 moradores da periferia de São Paulo que votaram no PT de 2000 a 2012, mas não sufragaram Dilma Rousseff em 2014 nem Fernando Haddad em 2016. O resultado mostra que os eleitores não veem a existência de uma luta de classes em que patrões exploram trabalhadores. Percebem ricos e pobres no mesmo barco contra um inimigo comum: o Estado taxador e burocrático que não entrega serviços de qualidade. Haveria uma "ideologia do mérito" e a identificação com histórias de superação e sucesso, levando a uma admiração tanto por Lula quanto por João Doria. Preocupado em ascender socialmente de forma individual, tal eleitor restringiria seus ideais de comunidade a dimensões de família, vizinhos e igrejas (principalmente neopentecostais). Os eleitores entrevistados indicaram ainda o que a Perseu Abramo chamou de "sobrevalorização" do mercado sobre o Estado, um "liberalismo das classes populares". "O eleitor tem a igualdade de oportunidades como ponto de partida e a defesa do mérito como linha de chegada. Trata o mercado como instituição mais crível que o Estado, a esfera privada mais relevante que a pública e cultiva mais o individualismo do que a solidariedade. Tem como valores prioritários o sucesso, a concorrência, o utilitarismo e mercantilização da vida", diz o estudo. Como se não bastassem tais indicativos da desconexão entre discurso petista e eleitorado, a fundação verificou ainda que conceitos usados pelo partido, como esquerda, direita, conservadorismo e progressismo são indefinidos ou inexistentes para o público. "O campo democrático-popular precisa produzir narrativas contra-hegemônicas mais consistentes e menos maniqueístas ou pejorativas sobre as noções de indivíduo, família, religião e segurança", conclui o estudo. Presidente da Perseu Abramo, Marcio Pochmann diz que o resultado lança luz sobre a nova classe trabalhadora brasileira, proveniente sobretudo do setor de serviços, e não da indústria, esta historicamente ligada ao PT. "É um segmento relativamente novo para o partido, que ascendeu e passou a ter expressão eleitoral. Cabe portanto conhecê-lo melhor, entender sua lógica de funcionamento", disse. Pochmann afirmou que a fundação fornece análises e informações à direção petista, esta sim responsável pelo discurso partidário. A entidade promoverá encontros para discutir os resultados, entre eles com o Instituto Fernando Henrique Cardoso, no próximo dia 18.

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