domingo, 28 de maio de 2017

A gota 'água que levou Maria Silvia a pedir demissão no BNDES

Além do escândalo envolvendo Michel Temer e Joesley Batista, dos problemas com os servidores e da constante tentativa do próprio Palácio do Planalto de fritá-la, Maria Silvia decidiu entregar o cargo ao receber de Temer a missão de usar o BNDES para punir os donos da JBS. O presidente colocou toda a máquina estatal a serviço de seu plano de revanche por causa da delação apocalíptica dos irmãos Batista. Os superintendentes do BNDES se reuniram com os funcionários das suas áreas na segunda-feira (22), para passar informes da administração do banco. Alguns relataram que Maria Silvia havia ficado irritada com o áudio da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer. Isto porque o trecho em que Joesley afirma que "o BNDES tá bem travado" teria dado margem a uma dupla interpretação: ou que ela estava travando as liberações para a JBS, ou que ela estava travando o banco como um todo. "Hoje, Maria Silva tá falando com quem? Tá problemático", reclama Joesley. Temer então responde que servidores do BNDES estão com bens indisponíveis e que o banco tem uma verba de R$ 150 bilhões parada. Não foi uma resposta que pudesse amenizar a irritação da então presidente do banco. Em seus pronunciamentos sobre a gravação, Temer se ancorou na equipe econômica, citando a moralização feita no BNDES por Maria Silvia. Os relatos no banco são de que ela, além de não gostar das falas do presidente, gostou muito menos da perspectiva de eventualmente ter de responder à "CPI do Joesley". Maria Silvia estava preparada para lidar com gente como Moreira Franco, mas ficou surpresa ao encontrar no BNDES uma burocracia alinhada ao poder político. Tem muita gente boa, é claro, mas é preciso apurar exatamente a participação dos funcionários na facilitação de empréstimos bilionários a empresários amigos, como Marcelo Odebrecht, Joesley Batista e... José Carlos Bumlai. No ano passado, a Justiça Federal bloqueou os bens de vários funcionários ligados à concessão de empréstimos à Usina São Fernando, de onde saíram recursos para reformar o sítio de Atibaia. A Justiça Federal em Dourados determinou a indisponibilidade de bens e recursos financeiros de Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES, e de outros 19 diretores e empresários, num total de R$ 665,7 milhões. Uma ação de improbidade responsabiliza a cúpula do banco pela concessão de empréstimos sem garantias à Usina São Fernando, de José Carlos Bumlai, o amigão de Lula. Além de Coutinho, são alvos da ação o próprio Bumlai e seus filhos Maurício e Guilherme, além do BTG, Banco do Brasil e a Usina São Fernando. Os demais réus são: Gil Bernardo Borges Leal, Carlos Eduardo de Siqueira Cavalcanti, Maurício dos Santos Neves, Júlio César Maciel Raimundo, Plínio Bastos de Barros Netto, Bernardo Bueno Bastos de barros, Maria Alves Felippe, Anita Rabaca Feldman, Victor Emanoel Gomes de Moraes, Armando Mariante Carvalho Júnior, Claudia Pimentel Trindade Prates, Gustavo Lellis Pacifico Peçanha, Daniel Schaefer Denys, Renata Soares Baldanzi Rawet, Evandro da Silva, Luiz Fernando Linck Dorneles, João Carlos Ferraz, Eduardo Teixeira e Borges e Anna Clements Mannarino. Além de contrariar grandes grupos, como a JBS, Maria Silvia perdeu o controle da burocracia interna, que lhe cobrava apoio contra as investigações da Lava Jato. A gota d'água foi a Operação Bullish, que teve como alvo funcionários do banco que atuaram na facilitação de empréstimos. Maria Silvia indicou a advogada Claudia de Azeredo Santos, sua amiga, como representante do BNDES no Conselho da JBS. Foi Claudia que articulou o voto contrário do BNDESPAR à reorganização societária da JBS - a criação de uma nova empresa com ações negociadas em Nova York e sede na Irlanda -, o que derrubou as ações da companhia. A advogada também foi contra a oferta da JBS para compra da participação acionária do banco no grupo. Essas ações, tomadas bem antes de Joesley aderir à delação premiada, foram muito criticadas internamente no governo de Michel Temer. A partir daí, Maria Silvia começou a ser fritada, especialmente por Moreira Franco. Ricardo Ramos, diretor das áreas de administração e recursos humanos, comércio exterior e fundos garantidores e de operações indiretas, assume o comando do BNDES interinamente. Ele é funcionário do banco desde 1993.  (O Antagonista)

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