sábado, 13 de maio de 2017

Marqueteira baiana Mônica Moura diz ter recebido caixa dois de cinco formas diferentes em 2010


Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, relatou em sua delação cinco maneiras diferentes pelas quais recebeu pagamentos de caixa dois em 2010, na primeira campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT). Segundo ela, a negociação do orçamento foi semelhante a das campanhas de 2006 e 2008 do PT. As conversas ocorreram entre ela e o ex-ministro Antonio Palocci, que sempre avisava sobre a necessidade de uma parte ser paga por caixa dois. De acordo com a delatora, o então tesoureiro João Vaccari Neto também participou. Mônica disse que o valor total da campanha ficou em R$ 54 milhões, sendo que de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões seriam pagos por fora. Como também ocorreu em 2006 e 2008, Mônica Moura foi orientada a procurar a Odebrecht para acertar o recebimento de parte do caixa dois. O restante caberia ao PT pagar. Ela afirma que, ao longo de 2010, a Odebrecht operacionalizou o pagamento de R$ 5 milhões em dinheiro. As entregas aconteciam em hotéis e flats de São Paulo. No ano seguinte, a empresa repassou mais R$ 10 milhões (cerca de US$ 5 milhões) pela conta do casal de marqueteiros na Suíça. Mônica relata que executivos da Odebrecht, porém, pediram que ela assinasse um contrato para o envio desse montante. Segundo ela, eles lhe explicaram que o contrato fictício só serviria para que o banco onde a empresa tinha conta liberasse os pagamentos. Assim, ela assinou o documento que estabelecia uma relação entre a sua conta offshore Shellbill e a offshore Klienfield, da Odebrecht. O contrato, apreendido mais tarde pela Lava Jato, serviu para ligar os marqueteiros à empreiteira. Com relação ao pagamentos de caixa dois que cabiam ao PT, Mônica afirmou que eram feitos por Vaccari, na sede do partido em São Paulo, ou por Juscelino Dourado, assessor de Palocci, numa casa de chá no shopping Iguatemi, também na capital paulista. Mônica afirma, entretanto, que o PT ficou devendo cerca de R$ 10 milhões do pagamento de caixa dois previamente acertado. Ela disse que, desde 2011, procurou Palocci e Vaccari para saldar o débito, mas sem sucesso. Então, segundo seu relato, Santana procurou o ex-presidente Lula para reclamar. O petista afirmou que Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, resolveria. O contato com Okamotto durante o ano de 2012, diz Mônica, não surtiu efeito. Até que Vaccari, já no fim daquele ano, indica o operador Zwi Skornicki para fazer o pagamento. Mônica diz que o procurou em 2013 e que ele se dispôs a pagar por meio da conta na Suíça, mas afirmou que era preciso um contrato. A delatora, então, envia a Skornicki o acordo celebrado com a Odebrecht anos antes para servir de modelo. "Eu risquei todas as partes que estava escrito Klienfield e disse pra ele substituir pela empresa dele." A delatora afirma, contudo, que nunca chegou a assinar o contrato e, ainda assim, Skornicki começou a pagar em dez parcelas de US$ 500 mil. As últimas prestações, já em 2014, não foram pagas, segundo Mônica Moura, devido ao avanço da Lava Jato. A delatora afirma que, a exemplo de 2006 e 2008, Palocci dizia que precisava recorrer ao chefe, referindo-se a Lula, para aprovar os custos da campanha. Mônica diz que não tratou pessoalmente com Lula sobre dinheiro naquela época. Ela diz ainda que Dilma não participava das conversas técnicas e financeiras da campanha e que tampouco recorreu à então candidata quando houve atraso no pagamento do PT.

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