terça-feira, 30 de maio de 2017

Sargento diz ter atuado em central de escutas clandestinas a mando de ex-comandante da PM


A sargento Andrea Pereira de Moura Cardoso, da Polícia Militar do Mato Grosso, suspeita de fazer parte de um esquema de escutas clandestinas de advogados, jornalistas, políticos e médicos feitas pela PM, contou à Corregedoria Geral da Polícia Militar, que investiga a conduta dos policiais militares nesses crimes, sobre a existência de uma central de interceptações fora do Comando Geral da PM. No depoimento prestado no último dia 26, ela afirmou ter executado o serviço para cumprir ordens dos superiores. Ela disse ter cumprido determinação dos coroneis Zaqueu Barbosa e Airton Siqueira, atual secretário de Justiça e Direitos Humanos. Na época, Zaqueu, que está preso por suposto envolvimento no caso, era comandante da corporação e Siqueira era chefe do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer). Os números de pessoas que não eram suspeitas de crimes foram incluídos com a autorização da Justiça e a pedido da PM numa suposta investigação de tráfico de drogas. A sargento nega ter ouvido pessoas que não eram supostamente investigadas. A PM entregou à Corregedoria o computador pessoal dela, que também foi usado para interceptações telefônicas, e disse que teme pela própria vida e pela vida da família. No documento sigiloso, a policial contou que não se recorda a data exata, mas que foi chamada, em 2014 ou 2015, pelo coronel Siqueira Junior, que lhe disse para procurar o coronel Zaqueu no Comando-Geral da PM. Zaqueu, então, informou à sargento que ela iria trabalhar na Inteligência da PM, especificamente na função de interceptações telefônicas. O então comandante da PM disse também que o cabo Gerson Luiz Ferreira Correa Junior, preso por envolvimento no esquema, seria o responsável em explicar como seria executado serviço, porque tinha muito conhecimento na área. O cabo disse a Andrea que ela iria ouvir policiais militares envolvidos em crimes. Inicialmente, as escutas eram feitas em um apartamento no Centro de Cuiabá, nas proximidades do Museu da Caixa D'Água Velha. O local tinha dois quartos que eram usados pelos PMs para os trabalhos. No cômodo em que Andrea ficava havia dois computadores, fones de ouvido e um aparelho que parecia ser uma CPU grande, segundo a policial. No outro quarto, com armários e cerca de 15 aparelhos celulares ligados a um computador, quem ficava era o cabo Gerson. Andrea relatou que ficava no apartamento das 13 às 18 horas, normalmente sozinha - o cabo Gerson aparecia no local de forma esporádica, disse. Depois, com o aumento na demanda, outro PM foi chamado a trabalhar no mesmo local que ela: o cabo Cleyton Dorileo Rosa de Barros. A sargento disse que o sistema ao qual os policiais tinham acesso exigia login e senha, que foram cadastradas pelo "sargento Torezan", que trabalhava no Gaeco (Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Estado do Estado do Mato Grosso. Andrea contou que, pelo sistema, tinha acesso a pastas com nomes ou apelidos dos monitorados. Os trabalhos no apartamento foram feitos até julho de 2015, quando Andrea foi informada de que deveria dar continuidade ao serviço no computador pessoal dela. A instalação do programa no computador pessoal foi feito com auxílio de Torezan, disse a sargento. A sargento prosseguiu com a demanda até setembro de 2015. Em novembro daquele ano, recebeu ligação do cabo Gerson dizendo para ela se apresentar na Casa Militar. Na pasta, que estava sob o comando do coronel Siqueira Junior, foi informada que o trabalho dela na Inteligência tinha terminado e que ela deveria trabalhar internamente na Casa Militar. O esquema de grampos veio à tona no dia 14 deste mês. A Procuradoria-Geral da República apura se o governador Pedro Taques (PSDB) tinha conhecimento e de quem partiu a ordem para os grampos. Ele nega qualquer envolvimento com o esquema. Todos os governos têm este esquema. Em Porto Alegre era comum a atuação de uma dupla com uma maleta de interceptações telefônicas operada a partir de um banco da praça da Matriz, o que permitia a interceptação de ligações de deputados estaduais, funcionários do Palácio Piratini, do Palácio de Justiça e de escritórios de advocacia das redondezas. (O Globo)

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