domingo, 11 de junho de 2017

Acordo de leniência da JBS gera polêmica com funcionários do BNDES


O pagamento de R$ 2 bilhões que a JBS deverá fazer ao BNDES, como parte de seu acordo de leniência, provocou polêmica com os funcionários do banco estatal. Pelo acordo, a empresa reconhece crimes praticados e propõe ressarcir o Estado em R$ 10,3 bilhões. O valor foi dividido entre os vários órgãos federais que tiveram relação com a JBS, como o BNDES e o FI-FGTS, fundo de investimentos com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). O reconhecimento de crime, porém, é tema interditado dentro do banco. ]

Os funcionários rejeitam qualquer suspeita de favorecimento à empresa comandada pelos irmãos empresários bucaneiros caipiras Joesley e Wesley Batista e alegam que todos os critérios técnicos foram obedecidos nas operações. Na quinta-feira (9), a associação dos funcionários fez circular uma nota entre os principais executivos do banco, em que afirma que não houve dano ao BNDES, tampouco foram cometidas irregularidades. E que aceitar o dinheiro a título de ressarcimento seria uma espécie de admissão de culpa.

A associação quer que os R$ 2 bilhões sejam tratados como uma multa, em que a empresa paga por seus crimes. A principal preocupação é diferenciar o BNDES da Petrobras, em que executivos admitiram cometer crimes. "Deve ficar claro que qualquer recebimento por parte do BNDES, decorrente do mencionado acordo, decorre de imposição de multa por infração praticada por empresários e agentes públicos que não integram o quadro de empregados do Sistema BNDES", diz a nota. A grande maioria dos funcionários do BNDES é petista, gente admitida no banco durante os governos petistas.

Mais de 30 funcionários do banco são alvo de investigação da Polícia Federal, que apura se técnicos teriam participação no favorecimento à JBS e à holding J&F em aportes financeiros feitos pelo BNDES. O Tribunal de Contas da União também quer saber se, por atuação de servidores, houve dano ao Estado.

Em sua delação, Joesley Batista afirma que pagou o ex-ministro "porquinho" petista Guido Mantega para que facilitasse a liberação de recursos para a empresa no BNDES. Mas ele não aponta responsáveis dentro do banco. "Meu relacionamento sempre foi com o Guido, nunca com o Luciano Coutinho (então presidente do BNDES) (...) Não sei como funcionava o Guido e o banco, o relacionamento entre o Guido e o presidente do BNDES", disse Joesley em seu depoimento. "Eu sempre considerei que a minha vida no BNDES sempre foi muito dura", afirmou o empresário. "Os termos meus no BNDES, se olhar, esse empréstimo de R$ 2 bilhões aí mesmo para a fábrica da Eldorado, se olhar as condições e o que teve que ser feito para ele sair, é uma loucura. Sempre, sempre tinha uma dificuldade muito grande no BNDES. Aí, o Guido chamava o Luciano e falava... Tinha vezes que era constrangedor, porque eu ia em uma reunião com o Guido, chegava lá, o Luciano estava. E eu percebia que o Luciano ficava claramente constrangido, porque ficava parecendo que ele não sabia que eu ia chegar na reunião, sabe?" - contou Joesley. 

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