sexta-feira, 16 de junho de 2017

Doleiro Lucio Bolonha dá novo longo depoimento à Polícia Federal e complica a situação de Temer


Em um longo segundo depoimento à Polícia Federal, nesta quarta-feira, o doleiro Lúcio Bolonha Funaro fez revelações que podem complicar ainda mais a situação do presidente Michel Temer e do ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, investigados por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça. Chamado para esclarecer pontos incompletos do interrogatório anterior, ocorrido no dia 2 deste mês, Funaro respondeu a todas as perguntas do delegado que está à frente do inquérito. O depoimento se prolongou por mais de quatro horas, o que indicaria o forte interesse dos investigadores nas informações fornecidas pelo operador. No primeiro depoimento, Funaro acusou Geddel de fazer sondagens para saber se ele iria mesmo fazer acordo de delação premiada, como estava sendo ventilado pela imprensa. O ex-ministro, um dos principais aliados de Temer, teria ligado várias vezes para a mulher de Funaro em busca de informações sobre os planos do doleiro. Em uma conversa com Temer, em 7 de março deste ano, o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, disse que estava pagando mesadas a Funaro e ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para que os dois não fizessem delação. 

Funaro teria afirmado também que, até ser demitido, Geddel era o principal interlocutor do empresário bucaneiro caipira Joesley Batista no governo. A questão é importante porque, ainda na conversa com Temer, Joesley disse que, com Geddel fora de cena, precisaria de um novo interlocutor. Temer indicou, então, Rocha Loures para tratar de “tudo” com o empresário. Dias depois, o ex-assessor saiu a campo e tratou de decisões e cargos estratégicos do governo com Joesley. Em outro momento, foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, operador da propina da JBS.

O dinheiro seria a primeira parcela de um suborno que, pelos cálculos da Policia Federal, bateria a casa dos R$ 600 milhões ao longo de 25 anos. Segundo Saud, o dinheiro seria para Temer. As conversas e o recebimento do dinheiro resultaram na abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal e na prisão de Rocha Loures. No início, Funaro se mostrava reticente em colaborar. Mas, há duas semanas, contratou o advogado Antonio Figueiredo Basto para negociar acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República. Na semana passada, o advogado Bruno Espiñeira Lemos, coordenador da defesa de Funaro, disse que seu cliente está decidido a colaborar com a Justiça. Funaro está preso no Complexo Penitenciário da Papuda desde junho do ano passado. Ele é acusado de se associar ao ex-deputado Eduardo Cunha para desviar dinheiro público e construir uma rede de poder político a partir de financiamento legal e ilegal de campanhas eleitorais de determinados candidatos. O doleiro é suspeito de ter intermediado um repasse de R$ 4 milhões da Odebrecht para um grupo de políticos do PMDB mais próximos a Temer. Parte do dinheiro teria sido entregue por Funaro no escritório de advocacia de José Yunes Filho, um dos ex-auxiliares e amigo pessoal de Temer. 

Assessor especial de Temer, Yunes pediu demissão em dezembro passado, quando soube que as informações sobre a entrega do dinheiro no escritório dele apareceriam em delações de executivos da Odebrecht. Os R$ 4 milhões fariam parte de um total de R$ 10 milhões acertados em um jantar oferecido por Temer a Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, no Palácio do Jaburu, na campanha eleitoral de 2014. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República no início deste ano, Yunes disse que Funaro realmente deixou um pacote no escritório dele.

A tentativa de Funaro de fazer acordo de delação aumenta a pressão sobre Temer. O presidente e pelo menos oito ministros já estão sendo investigados por corrupção. O movimento do operador, aliás, já teria provocado forte reação de Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba. Até recentemente, o ex-deputado considerava impossível que o ex-operador partisse para uma colaboração. Isso torna também fragilizada a posição de Eduardo Cunha, que tem quatro mandados de prisão.

Em depoimento nesta quarta-feira à Polícia Federal, em Curitiba, Eduardo Cunha manteve a linha de rebater as acusações de que a JBS pagou para que se mantivesse calado na prisão. Eduardo Cunha disse que nunca negociou seu silêncio com o governo federal. "Ele (Cunha) disse que não foi comprado e que seu silêncio nunca esteve à venda", afirmou o advogado Rodrigo Sanchez Ríos, após acompanhar a oitiva de Cunha, que durou cerca de duas horas.

O depoimento foi marcado para que Cunha respondesse a 47 das 82 perguntas formuladas pela Polícia Federal ao presidente Michel Temer no inquérito que investiga se o presidente cometeu crime de corrupção, obstrução à Justiça e organização criminosa. As perguntas foram formuladas em Brasília e lidas a Cunha pelo delegado Maurício Moscardi Grillo (que conduz o inquérito da Operação Carne Fraca).

De acordo com pessoas próximas, o ex-deputado não recuou ao evitar ataques a Temer em seu depoimento. Eduardo Cunha ainda avalia seus próximos passos, embora não descarte implicar o presidente. O ex-presidente da Câmara teria decidido adotar cautela enquanto não tiver acesso à íntegra dos documentos do inquérito da JBS, sobretudo das gravações telefônicas. A preocupação é que haja algum elemento que possa complicar sua situação.

De acordo com Ríos, Eduardo Cunha respondeu a 23 dos questionamentos sobre o caso JBS — somente aqueles não relacionados ao processo em que ele é acusado de receber propina por parte de empresas interessadas em sua influência para facilitar empréstimos do FGTS. "O deputado fez uma declaração geral. A metade das perguntas dizia respeito à ação penal sobre FGTS, e em reação a isso é mais fácil responder dentro do processo, são perguntas retiradas da nossa defesa. Quanto aos fatos da JBS, o deputado ressaltou mais uma vez que o silêncio dele nunca esteve à venda, ou seja, nunca o procuraram, nem ao presidente Temer nem interlocutores próximos ao presidente, para comprar o silêncio do deputado. Então ele refutou todas as perguntas relacionadas a esse fato", declarou o advogado à saída do depoimento de Cunha. O advogado disse ainda que Cunha negou conhecer a irmã de Lúcio Funaro, e que se houve uma ação controlada quanto ao dinheiro encontrado com ela é possível “ver para onde se direcionavam as notas”. 

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