quarta-feira, 28 de junho de 2017

Fifa aponta que o cartola Ricardo Teixeira recebeu propina do Catar para escolha de sede da Copa do Mundo


A Fifa divulgou nesta nesta terça-feira o relatório do investigador americano Michael Garcia, que traz detalhes sobre as suspeitas de corrupção envolvendo o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira. O documento de 360 páginas mostra que o ex-dirigente brasileiro usou contratos comerciais para jogos da seleção brasileira em 2010 para camuflar o pagamento de propina que recebeu para apoiar a candidatura do Catar para receber a Copa de 2022.

As informações constam no relatório elaborado por Michael Garcia, contratado pela Fifa para apurar as suspeitas de ilegalidade há cinco anos. O americano, que hoje é juiz num tribunal de apelação de Nova Iorque, chegou à constatação de que há indícios fortes de que o Qatar comprou votos para sediar o evento.

Seu informe jamais foi tornado público e, diante da decisão da entidade de engavetar suas descobertas, Michael Garcia pediu demissão em 2014. Poucos foram processados e o Qatar jamais perdeu o direito de sediar o torneio. Nesta semana, o jornal alemão Bild teve acesso aos documentos, e a partir desta terça-feira começaria a revelar os detalhes do processo. A Fifa, porém, optou por se antecipar e publicar o relatório completo.

Um dos detalhes se refere à forma como Ricardo Teixeira integrou o esquema suspeito de compra de votos. Michael Garcia explica como uma partida entre Brasil e a Argentina, realizada no Qatar, pode ter sido usada como forma de camuflar recursos que seriam destinados a pagar Ricardo Teixeira pelo apoio ao país árabe.

O relatório destaca como o Qatar destinou 7 milhões de dólares (cerca de 23 milhões de reais, na cotação atual) a Ricardo Teixeira e ao então presidente da Associação Argentina de Futebol (AFA), Julio Gordona. Naquele momento, porém, o cachê da seleção era de apenas 1,1 milhão de reais (3,6 milhões de reais).

Quem pagou pelo jogo foi a GSSG, empresa de construção do Qatar que está erguendo as principais obras da Copa do Mundo de 2022. O dinheiro, em seguida, foi enviado à empresa sediada em Zurique, a Swiss Mideast. Um total de 8,6 milhões de dólares (28 milhões de reais) foram dados para a empresa Kentaro organizar o jogo e pagar as duas seleções. A empresa, porém, deu uma comissão de 2 milhões de dólares (6,6 milhões de reais) para uma sociedade de Cingapura, a BCS. O pagamento foi apenas por terem “feito a apresentação” entre as partes envolvidas no jogo.

Mais 2 milhões de dólares teriam seguido para a empresa World Eleven, contratada pela Associação de Futebol da Argentina (AFA) para organizar amistosos pelo mundo. O dinheiro, então, seguiria para a entidade esportiva de Buenos Aires, na época presidida por Julio Grondona, um dos que votaram a favor do Qatar. No caso do Brasil, a Kentaro destinaria um valor inferior, 1,1 milhão de dólares, mais um pagamento extra de 300.000 dólares. O dinheiro foi enviado para a ISE, nas Ilhas Cayman, que depois repassou-o para a CBF.

Para o amistoso, o Qatar gastou apenas com a hospedagem de Teixeira mais de 20.000 dólares (66.000 reais), cinco vezes o que o governo gastou com Lionel Messi. O brasileiro teve um tratamento de chefe de Estado, ocupando uma suíte presidencial. Os documentos também revelam como Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, atuaria como intermediário para os interesses do Catar com as federações sul-americanas, entre elas a CBF.

O relatório de Michael Garcia sugeria que Ricardo Teixeira fosse investigado por corrupção, conflito de interesse e outras violações ao código de ética da Fifa. O então chefe da CBF ainda voou em um jato privado do Qatar para uma das reuniões e teria dito a interlocutores de outras campanhas de que o ex-presidente Lula “não é nada” e que qualquer decisão do voto do Brasil seria decidido por ele.

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