sábado, 3 de junho de 2017

Líder de esquema da Carne Fraca deve citar Serraglio em delação


Apontado como "líder e principal articulador do bando criminoso" — nas palavras do juiz federal Marcos Josegrei da Silva — investigado pela operação Carne Fraca, o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Paraná, Daniel Gonçalves Filho, tem sua delação premiada ao Ministério Público Federal perto de ser concluída. Faltam poucas reuniões para que ele termine de prestar informações e o pacote seja submetido à homologação. O ex-ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), que em conversa telefônica grampeada pela Carne Fraca se refere a Gonçalves como "grande chefe", é um dos alvos da delação. Por conta do foro privilegiado do político, a colaboração deverá requerer a participação da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal. Gonçalves comandou o Mapa no Paraná entre 2007 e 2014 e de junho de 2015 a abril de 2016. No fim do mês passado, foi acusado pelo Ministério Púbico Federal de crimes como organização criminosa, corrupção passiva privilegiada, prevaricação (agir contra sua função para para satisfazer interesse pessoal), concussão (exigir vantagem indevida) e violação de sigilo profissional. Para o Ministério Púbico Federal, as investigações mostraram que o esquema no Paraná era comandado por Daniel Gonçalves Filho e pela chefe do Setor de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sipoa/PR), Maria do Rocio Nascimento, que trabalhavam em Curitiba. Outros fiscais agropecuários participavam das irregularidades e mantinham contato direto com a dupla que liderava a quadrilha. Da mesma forma, representantes das empresas envolvidas atuavam de tal forma a manter o funcionamento do esquema criminoso. Poucos dias depois da denúncia, começou a tratar de sua delação. Já contratara, antes, o advogado paranaense Adriano Bretas, que também é responsável pelas delações premiadas do ex-ministro Antonio Palocci, o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e o doleiro Alberto Youssef. Na decisão em que deflagrou a Carne Fraca, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Criminal Federal de Curitiba, relatou a conversa entre Gonçalves — que era grampeado, com autorização judicial, pela Polícia Federal — e Serraglio, então deputado federal. "Em conversa com o Serraglio, Daniel é informado acerca de problemas que um frigorífico de Iporã (620 km a noroeste de Curitiba, e próxima a Umuarama, cidade em que o peemedebista, gaúcho, construiu carreira política) estaria tendo com a fiscalização. Logo após encerrar a ligação, Gonçalves ligou para Maria do Rocio Nascimento, contando-lhe que o fiscal de Iporã quer fechar o frigorífico. Ele pede a ela que averigue o que está acontecendo e lhe ponha a par. Ela então obedece à ordem e em seguida o informa de que não tem nada de errado lá, informação esta depois repassada a Serraglio", anotou Josegrei. É nessa conversa que o político saúda Gonçalves como "grande chefe". "Ela dá uma boa pista do que há na delação contra Serraglio", disse uma fonte que acompanha as conversas do ex-superintendente regional do Mapa com os procuradores do Ministério Público Federal. Após a gravação vir à tona, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) disse ter sido pressionada por deputados federais paranaenses do partido para não demitir Gonçalves: Serraglio e Sérgio Souza. Um assessor de Souza, Ronaldo Troncha, disse à Polícia Federal  que Serraglio participou da articulação para nomear o agora delator para o cargo que ocupou entre 2007 e 2016.  

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