terça-feira, 27 de junho de 2017

Ministro tucano diz que vê com "estranheza" declaração de FHC sobre diminuição do mandato de Temer


Responsável pela articulação política do governo, o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) afirmou nesta segunda-feira (26) que viu com "estranheza" as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em defesa do encurtamento do mandato de Michel Temer. Para o ministro tucano, a proposta de FHC, que pede a convocação de novas eleições, é impossível de ser executada. "Vi com estranheza essa manifestação de FHC, primeiro porque ele foi muito influente na decisão do PSDB em permanecer na base do governo, segundo porque é uma proposta de absoluta inexequibilidade", disse Imbassahy. Na verdade não há nada estranho. Fernando Henrique Cardoso sabe que esse é talvez o único modo de tentar salvar o petista Lula da cadeia, e é o que está fazendo.

De acordo com o ministro, para que a tese do ex-presidente fosse colocada em prática, o Congresso teria que aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional que levaria meses para tramitar no parlamento e, caso aprovada, o prazo coincidiria com a campanha presidencial de 2018 já em curso. A opinião de Imbassahy sobre o artigo publicado por FHC na Folha expressou o desconforto de outros tucanos com as declarações do ex-presidente.

Em caráter reservado, dirigentes do PSDB avaliam que as declarações de FHC foram prejudiciais ao partido, passando a imagem de uma sigla que "vacila" e "não sabe o que quer". Isso porque, mesmo rachados, os tucanos decidiram, há duas semanas, permanecer na base do governo Temer, contanto que as reformas trabalhista e previdenciária caminhassem no Congresso. Integrantes do Palácio do Planalto, por sua vez, avaliam que o discurso de FHC em defesa do encurtamento do mandato de Temer foi um "ato isolado" e que não deve precipitar o desembarque dos tucanos.

Auxiliares do presidente afirmam que FHC está tentando "apenas lustrar sua biografia" em meio ao racha do PSDB e que a fidelidade do maior partido da base aliada será medida na próxima quarta-feira (28), quando a reforma trabalhista será votada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no Senado. Diante da relação cada vez mais delicada com o PSDB, que já ensaiou desembarcar do governo algumas vezes desde a delação da JBS, a ordem no Planalto é ter cautela e não responder diretamente a FHC, para evitar que a pauta do ex-presidente ganhe gravidade e contamine parlamentares do partido que ainda apoiam governo.

O diagnóstico de Temer é que os tucanos estão divididos mas o foco de maior problema é na Câmara, onde a ala mais jovem do partido pressiona para que a sigla abandone o governo. No Senado, acreditam os assessores do presidente, o quadro é mais estável e precisa ser administrado. A avaliação do grupo político do presidente tem ressonância entre alguns quadros do próprio PSDB, que viram como "desastrosa" e "desnecessária" a postura de FHC em artigo publicado na Folha.

Entre esses dirigentes tucanos, a tese é de que o artigo do ex-presidente não pode funcionar como um "gatilho" para o desembarque do partido do governo, e que o pêndulo da legenda deve continuar se mirando na aprovação das reformas.

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