quinta-feira, 15 de junho de 2017

Temer confia em sua tropa de choque para impedir avanço do impeachment na Câmara dos Deputados

Para segurar a volátil base parlamentar e barrar a aguardada denúncia da Procuradoria-Geral da República, o presidente Michel Temer trabalha em um plano de contenção do que seus aliados mais próximos chamam de "tempestade perfeita": a investida do procurador-geral Rodrigo Janot, somada a delações do operador Lúcio Funaro e do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Na estratégia palaciana, a distribuição de emendas e cargos ganhou reforço do afago aos governadores na renegociação de dívidas e das promessas do PMDB de blindagem para evitar a cassação do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Além disso, apoio ao PSDB na corrida presidencial de 2018. A aprovação do distritão na reforma política, a fim de facilitar reeleições de deputados, e a troca do comando da Polícia Federal também estão no horizonte.

Como a denúncia de Janot precisa do aval de 342 dos 513 deputados para ser apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, o foco de Temer está na Câmara. Ele busca 172 aliados dispostos a engavetar o caso, fruto da delação da JBS e da conversa gravada entre o presidente e o empresário Joesley Batista. Parlamentares de diferentes partidos afirmam que, no momento, o Planalto tem os votos para sobreviver. "Toda abstenção ou ausência favorece o governo, então, Janot e a oposição que precisam de 342 votos. Eles não fazem 150", assegura o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS), que ganhou a duvidosa reputação de membro da tropa de choque de Temer.

A permanência do PSDB no governo, conquistada graças à negociação do PMDB com caciques do Senado e governadores, foi considerada decisiva no Palácio para garantir a confiança do momento. Porém, 20 dos 46 deputados tucanos, na ala jovem da bancada chamada de "cabeças pretas", adiantam que não blindarão Temer. "Defendo o apoio à agenda de reformas, mas não à participação em um governo em meio à tentativa de barrar investigações", afirma Daniel Coelho (PSDB-PE).

A tropa de choque do Planalto monitora a insatisfação tucana, em especial pelo receio por "fatos novos", capazes de contaminar o apoio de outras legendas. O risco foi o destaque de um jantar realizado terça-feira no apartamento do deputado André Fufuca (PP-MA), com a presença de cerca de 50 parlamentares dos principais partidos da coalizão de Temer, exceto o PMDB. Com leitão assado, vinho chileno e uísque no cardápio, os deputados avaliaram que, se a instabilidade se ampliar a partir de novas revelações ou delações, fica a tendência de que cada político pense apenas em sua reeleição. "Se Janot denuncia o presidente e aparece algo forte numa delação do Funaro, por exemplo, não tem emenda ou cargo que segure a base", garante um integrante do PP.

No raciocínio, pesam as votações abertas nas análises da denúncia. O pedido passa pela Comissão de Constituição e Justiça e pelo plenário, onde a votação é por chamada nominal, a exemplo do impeachment de Dilma Rousseff. Decano da Câmara e na oposição a Temer, Miro Teixeira (Rede-RJ) reconhece que o desgaste eleitoral de um voto contra a Lava-Jato pode fazer a base ruir, porém só vislumbra a possibilidade em caso de manifestações nas ruas. "No caso de Dilma, havia gente na rua. Votaria para processar Temer, mas a maioria que o presidente tem fica a perigo caso ocorram grandes protestos", diz. 

Para esfriar manifestações, o Planalto prepara ações de apelo popular, como a correção da tabela do imposto de renda. A aliança com o mercado também tende a ser reforçada. A ordem é aprovar a reforma trabalhista no Senado e tentar iniciar a votação da Previdência, na Câmara, em julho.

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