terça-feira, 4 de julho de 2017

JBS usava supermercados para pagamentos em espécie a políticos



Ao lado de valores milionários e nomes de políticos dos mais variados partidos, supermercados. Planilhas de pagamentos do frigorífico JBS listam diversos redes varejistas pelo país como fontes de pagamentos em dinheiro vivo para campanhas eleitorais. Segundo os delatores, o frigorífico combinava com os supermercados pagamentos pelos seus produtos em espécie e, a seguir, destinava as quantias diretamente a emissários dos políticos beneficiados. O ex-executivo Ricardo Saud disse que os supermercados não sabiam do que tratavam esses pagamentos nem tiveram qualquer tipo de vantagem.

O ex-funcionário Florisvaldo Caetano de Oliveira, também delator, diz que o esquema envolvia até o transporte de quantias por meio de carros-fortes. Entre os políticos apontados como beneficiados com pagamentos via supermercados, estavam o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o governador catarinense Raimundo Colombo (PSD).

Ricardo Saud mencionou ainda uma entrega de R$ 1 milhão em um supermercado de Curitiba, em 2014, para um irmão do governador paranaense Beto Richa (PSDB), mas não explicou as circunstâncias desse pagamento. Ao falar dos pagamentos para o senado tucano, o delator disse que quem recolhia o dinheiro nos varejistas era Frederico Pacheco, primo de Aécio Neves que foi preso na Operação Patmos e permaneceu um mês na cadeia. O total em espécie para o tucano, por essa forma, disse, foi de R$ 4,3 milhões.

O delator afirmou que negociou com dois supermercados para fazer pagamentos à vista por produtos da JBS, pagos em parcelas pelos donos do supermercado. "Eu dizia: 'ó, o Fred vai aí, vai pegar um dinheiro para mim'". Saud não citou o nome dessas empresas em seu depoimento, mas em uma planilha de pagamentos consta o nome "Super BH". No caso de Eduardo Cunha, Florisvaldo Caetano falou na rede Guanabara. Disse que foi buscar o dinheiro em uma loja no Rio de Janeiro em uma ocasião, em 2014, após se encontrar com Altair Pinto, braço-direito do ex-deputado e alvo na Patmos. A quantia, de cerca de R$ 500 mil, foi entregue em uma mala, disse o delator.

Com o governador catarinense Raimundo Colombo, a loja citada era do grupo Angeloni, em Florianópolis. O ex-funcionário da JBS, que integrou o conselho fiscal do frigorífico até o ano passado, disse que "em vez de os supermercados pagarem a fatura, já ficava acertado que iriam me pagar o dinheiro em espécie".

Apontado por seus superiores como um dos principais entregadores de dinheiro da companhia, ele mencionou ainda em depoimento lojas que pertenciam à própria JBS. "A JBS tem cem lojas de carnes em São Paulo. Quando tinha alguma necessidade de dinheiro vivo, em vez de depositar, entregavam."

Ele falou que a sala de seu escritório de contabilidade era usada para entregar as quantias. Contou que recebia informações sobre os repasses de Saud ou dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Na delação, Ricardo Saud disse que a empresa também esquentou dinheiro dos pagamentos a políticos por meio de notas falsas para mais de cem escritórios de advocacia pelo País. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pediu em maio informações ao Supremo Tribunal Federal sobre o assunto e prometeu providências.

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