domingo, 9 de julho de 2017

Marcelo Odebrecht diz que Temer e Cunha eram do mesmo grupo


Em depoimento à Justiça Federal na terça-feira, o empresário Marcelo Odebrecht afirmou que o presidente Michel Temer era do grupo do PMDB na Câmara do qual fazia parte o ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba desde outubro do ano passado em razão da Operação Lava-Jato. Ele também afirmou que ouvia falar da influência de Cunha no Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal. Mas ressalvou que soube disso tudo por terceiros, em geral executivos do grupo Odebrecht, comandado por ele.

Preso em Curitiba, também em razão da Operação Lava-Jato, Marcelo Odebrecht está cooperando com a Justiça. Ele foi ouvido na terça-feira em ação penal que investiga irregularidades na liberação de créditos do FI-FGTS para empresas privadas, prestando depoimento na condição de testemunha de Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de Cunha. Além de Cunha e Funaro, também são réus na ação: o ex-presidente da Câmara e ex-ministro Henrique Alves, o empresário Alexandre Margotto, e o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto. O caso tramita na Justiça Federal do Distrito Federal, sob os cuidados do juiz Vallisney de Souza Oliveira.

Indagado se sabia quem integrava o' grupo do PMDB na Câmara, da qual Cunha era integrante, ele citou apenas um nome. "A única pessoa que me lembro fazer parte desse grupo era Michel Temer. Mas isso era o Cláudio Melo Filho (executivo da Odebrecht) que me dizia", afirmou Marcelo. Questionado se sabia da influência de Cunha na Caixa Econômica Federal, Marcelo respondeu: "Se escutava. Isso era dito. Não necessariamente na Caixa Econômica. O que se ouvia falar é que ele tinha influência no FI-FGTS após a entrada de Fábio Cleto. Mas isso é o que eu ouvia. Eu nunca tratei diretamente com ele, nem ninguém me assegurou isso".

Ele contou inclusive um caso de financiamento no FI-FGTS que opunha a Odebrecht Saneamento a outra empresa, que teria o apoio de Cunha. Embora não tivesse certeza de que Cunha estava em lado oposto, Marcelo disse que foram tomados cuidados para evitar qualquer dissabor com o ex-deputado, que era uma pessoa influente. Assim, Fernando Reis, executivo do grupo, ficou encarregado de conversar com Cunha. O dono da Odebrecht afirmou que esteve pelo menos uma vez com Cunha, na residência oficial na Câmara, mas diz que nunca tratou diretamente com ele de pagamentos indevidos.

Quando a defesa de Cunha tentou explorar a possibilidade de que executivos da Odebrecht desviavam para si recursos que, segundo o sistema de propina da empresa, seriam para políticos, Marcelo não embarcou na tese. Os contatos da Odebrecht com Cunha se davam por meio de três executivos: Benedicto Júnior, Fernando Reis e Cláudio Melo Filho. No caso de Benedicto Júnior, a defesa de Cunha fez perguntas sobre dívidas que ele estava contraindo, sugerindo que ele poderia desviar recursos da Odebrecht para quitar seus débitos. Ou seja, os pagamentos não iriam para Cunha. Marcelo Odebrecht disse não ter conhecimento de ações do tipo por parte de seu executivo e emendou: "E eu não creio que isso tenha ocorrido tratando-se de Júnior".

Marcelo Odebrecht afirmou ainda que o sindicalista André Luiz de Souza, que está preso atualmente, era o nome do PT no FI-FGTS. O atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco, foi apontado como nome do PMDB com influência no fundo. E Carlos Lupi como alguém do PDT que tinha poder para influenciar nas decisões do FI-FGTS. Mas, novamente, fez uma ressalva: "Quem vai poder dizer a natureza de atividades ilícitas dessas pessoas são executivos do grupo que tinham tratativas com eles". Marcelo Odebrecht disse não conhecer Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de Cunha, ou Fábio Cleto, ex-vice presidente da Caixa Econômica Federal. Disse também desconhecer pagamentos indevidos a Funaro.

Cunha está preso desde outubro em Curitiba. Henrique Alves está detido dede o começo do mês passado em Natal. Funaro está preso em Brasília desde julho do ano passado, mas deve colaborar com a justiça. Cleto e Margotto já firmaram acordo de delação premiada.

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