terça-feira, 4 de julho de 2017

Morre Simone Veil, sobrevivente do Holocausto e incansável militante da Europa


A primeira mulher eleita presidente do Parlamento Europeu, em 1979, Simone Veil, promotora da lei que descriminalizou o aborto na França em 1974 e uma das figuras públicas mais queridas do país, morreu aos 89 anos, na sexta-feira (30), anunciou seu filho Jean Veil. "Minha mãe morreu esta manhã em casa. Teria completado 90 anos em 13 de julho", declarou o advogado. Simone passou a ser considerada símbolo da luta pelos direitos das mulheres após legalizar o aborto na França em 1974, quando era ministra da Saúde. Grande figura da vida política francesa, ela sobreviveu ao campo de extermínio de Auschwitz, para onde foi deportada aos 16 anos. Para os franceses, ela representava a memória do Holocausto.

A Europa foi uma das principais causas da vida política de Simone Veil, uma combatente pela paz no continente alimentada por seu trabalho pela memória do Holocausto. Em 1946, quando conheceu o marido, Antoine Veil, Simone Jacob acabava de voltar da deportação. No campo de concentração perdeu o pai, a mãe e o irmão. Essa tragédia e sua determinação em superá-la fizeram que Simone, mais de 30 anos depois, reforçasse seu compromisso europeu e aceitasse a proposta do presidente Valéry Giscard d'Estaing de liderar a lista da Union pour la Démocratie Française (UDF, formada por liberais e centristas) para as primeiras eleições com sufrágio universal do Parlamento Europeu. 

"Como todos os meus colegas, considero um dever explicar às jovens gerações, à opinião pública e às autoridades políticas como seis milhões de mulheres e homens, incluindo um milhão e meio de crianças, morreram apenas porque nasceram judeus", declarou na Assembleia Geral da ONU em 2007. Presa pela Gestapo em Nice, em 30 de março de 1944, pouco depois de ter terminado o Ensino Médio, foi deportada com sua irmã Milou (Madeleine) e sua mãe, Yvonne Jacob, primeiro para Drancy e, depois, para Auschwitz. Ela soube depois que sua outra irmã, Denise, havia sido deportada como resistente para Ravensbrück. Seu pai e seu irmão Jean desapareceram em meio à tormenta na Lituânia, em circunstâncias nunca esclarecidas.

Jovens e robustas, Simone Veil e sua irmã Milou devem sua sobrevivência ao fato de terem sido usadas na fábrica da Siemens em Bobrek, um subcampo do complexo de Auschwitz-Birkenau, como trabalhadoras escravas. Diante do avanço das tropas soviéticas em janeiro de 1945, foram transferidas para Bergen-Belsen. Foi nesse local que Yvonne Jacob, exausta e sofrendo de tifo, morreu em 15 de março, um mês antes da libertação do campo pelos ingleses. Conhecida por sua força, Simone vinha com a saúde fragilizada há vários anos. Em meados de 2016, foi internada por problemas respiratórios.

Pelo Twitter, o presidente francês, Emmanuel Macron, enviou de imediato uma mensagem de pêsames para a família: "Que seu exemplo possa inspirar nossos compatriotas, que encontrarão nele o melhor exemplo da França". Em nota, o agora ex-presidente François Hollande também homenageou uma mulher que "encarnou a dignidade, o valor e a integridade". "A França perde uma mulher excepcional, uma grande testemunha e uma militante da memória da Shoa", afirmou o presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif), Francis Kalifat. Simone, que foi membro do Conselho Constitucional de 1998 a 2007, entrou na política em 1974, momento em que ganhou notoriedade ao promover a lei sobre a interrupção voluntária da gravidez, aprovada nesse mesmo ano e que levaria seu nome.

De 1993 a 1995, Veil foi ministra de Estado, dos Assuntos Sociais, da Saúde e da Cidade, no governo de direita de Edouard Balladur, sob a presidência de François Mitterrand. O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, disse que a mensagem de Simone Veil "permanece viva no que diz respeito ao direito e ao papel das mulheres na Europa e, igualmente, ao antissemitismo. Sua vida é um exemplo a ser seguido. Após o chanceler alemão Helmut Kohl (morto em 16 de junho), perdemos mais uma grande figura europeia". "Ela viveu na pele as tragédias da Europa e soube, por meio de seu engajamento político, contribuir para a construção de uma paz durável na Europa", afirmou, por sua vez, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em carta a Emmanuel Macron.

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