sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Delator paranaense diz que ministro da Saúde negociou mesada em troca de cargo


Reportagem publicada hoje pelo jornal Folha de São Paulo aponta que o empresário Eduardo Lopes de Souza, dono da construtora Valor, do Paraná - acusada de desvio de recursos públicos para construção de escolas investigado na operação Quadro Negro - afirmou, em acordo de delação premiada, que o ministro da Saúde e deputado federal licenciado, Ricardo Barros (PP), teria negociado a compra de um cargo no governo do Estado por R$ 15 mil mensais. De acordo com a reportagem, os pagamentos teriam sido feitos, segundo o delator, ao cunhado de Barros e ex-vereador de Curitiba, Juliano Borguetti, irmão de Cida Borghetti (PP), mulher do ministro e vice-governadora.

A construtora Valor é investigada por desvios de cerca de R$ 20 milhões da Secretaria de Estado da Educação do Paraná na operação Quadro Negro, que investiga o esquema. O jornal afirma ter tido acesso aos anexos da delação assinada pelo empresário com a Procuradoria-Geral da República e que aguarda homologação do ministro Luiz Fux no Supremo Tribunal Federal.

De acordo com o relator, reunião com Barros teria ocorrido "bem no começo do ano de 2015", quando o ministro era deputado federal. Souza afirma que o combinado teria sido nomear Marilane Aparecida Fermino para um cargo de assistente na vice-governadoria. A nomeada atuaria ajudando a construtora Valor na Secretaria de Educação.

"Nessa reunião, Ricardo Barros disse que concordaria com a proposta, mas era para pagar R$ 15 mil mensais ao Juliano Borguetti (eu tinha oferecido R$ 10 mil)", diz trecho da delação de Souza. O empresário afirmou que a ideia era que Marilane fosse realocada, posteriormente, para a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, que seria a Pasta da "cota da família Barros", segundo ele.

"Ele (Barros) disse que colocaria Mari na Sema e que, em relação aos contratos que eu ganhasse lá, a gente acertava na época da campanha. Ele disse que não gostava de receber valores ao longo da execução das obras", afirmou o delator.

A nomeação de Marilene foi publicada no Diário Oficial do Estado de 21 de janeiro de 2015 como assessora da vice-governadoria do Estado. O salário base do cargo que a servidora ocupou seria R$ 9 mil. O delator também teria afirmado que que pagou três parcelas de R$ 15 mil por três meses ao irmão da vice-governadora, totalizando R$ 45 mil. "Ele (Juliano Borghetti, cunhado de Barros) ia buscar o dinheiro comigo lá na Valor", afirmou ele, segundo o jornal. 

Em dezembro de 2015, Borghetti ficou preso por três dias em uma das fases da Quadro Negro, que prendeu também o delator. Borghetti teria sido detido porque recebeu três cheques da construtora Valor de R$ 15 mil cada. Em 2013, o ex-vereador também foi preso por envolvimento em uma briga entre os torcedores do Atlético-PR e do Vasco em uma rodada do Campeonato Brasileiro na Arena Joinville (SC). 

De acordo com Souza, essa prisão provocou um desgaste da imagem de Borghetti, o que impedia que ele assumisse cargos no governo. Por isso, foi feito o acordo que lhe dava o direito "à nomeação de um cargo na vice-governadoria", explicou o delator. A nomeação teria sido acertada na reunião entre Barros, seu cunhado e o empreiteiro. Souza teria afirmado ainda que Marilane chegou a ser apresentada por Barros ao secretário do Meio Ambiente, mas que o combinado de deslocá-la para a Pasta não ocorrou. Disse ainda que depois ela perdeu o posto na vice, já que "o governador Beto Richa retirou alguns cargos da lá".

O empreiteiro diz que combinou com Borghethi suspender os pagamentos até que a situação da servidora se resolvesse. Logo depois, vieram a público os desvios envolvendo a Secretaria da Educação e a construtora Valor e os pagamentos não foram retomados. Atualmente, Marilane trabalha na Secretaria de Administração e Previdência do Paraná. 

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