quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Funaro diz que ministro Eliseu Padilha monitorava possibilidade de ele fechar delação


O operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro disse em sua delação premiada que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) "ficou incumbido" de monitorar as chances de ele fazer um acordo com a Procuradoria-Geral da República. Segundo o depoimento que integra a colaboração de Funaro homologada pelo Supremo Tribunal Federal, Padilha "valeu-se, para tanto, da sua amizade com os líderes dos escritórios e causídicos que o defenderam". 

Funaro, implicado na investigação como operador do PMDB da Câmara, aponta Antônio Cláudio Mariz, Eduardo Ferrão e Danier Gerber, este último atual advogado de Padilha, como os criminalistas responsáveis por ajudar no monitoramento. As declarações do operador, hoje preso, integram o relatório da Polícia Federal na investigação da suposta quadrilha do "PMDB da Câmara". 

O documento foi entregue na segunda-feira (11) pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal. Funaro contou, segundo o relatório, que Mariz de Oliveira, hoje advogado de Michel Temer, comunicou o presidente sobre o interesse dele fazer acordo de delação. Relatou que, no final de junho de 2016, pouco antes de ser preso, enviou por engano a Mariz de Oliveira uma proposta de honorários que era destinada a Figueiredo Basto, advogado de Curitiba especialista em delação. 

Funaro contou que logo depois recebeu uma mensagem do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), preso semana passada, por meio de um aplicativo que destrói textos após a leitura, questionando-o se estava delatando. Disse que negou a informação e perguntou a razão da indagação. Segundo o delator, Geddel afirmou que a notícia havia chegado no Palácio do Planalto. Diante do fato, Funaro afirmou que percebeu que havia mandado a mensagem de forma equivocada para Mariz e que a informação havia sido passada a Temer, que acionou Geddel para sondá-lo.

Em sua delação premiada, Funaro também afirmou que fez "um pacto de silêncio" com o Joesley Batista, sócio majoritário da J&F, controladora da JBS, "enquanto a família dele (Funaro) estivesse assistida". A informação conta no mesmo relatório da Polícia Federal. Ele contou que, em dezembro de 2015, após ser alvo de buscas na operação Catilinárias, Joesley propôs a ele um contrato de R$ 100 milhões para oficializar as dívidas que tinha com o operador sobre negócios lícitos e ilícitos e dar tranquilidade a Funaro. 

Disse ainda que "a certeza de que Joesley iria honrar esses compromissos e manter a família do depoente segura financeiramente trazia tranquilidade e que Joesley também se sentia seguro no sentido de que o depoente não tomaria nenhuma medida contra os interesse dele e seu grupo". O operador afirmou que Joesley lhe devia dinheiro e que, "caso os pagamentos fossem suspensos, o depoente iria 'estourar ele', ou seja, iria executar títulos de crédito contra o executivo na Justiça e ver se Joesley recuava; certamente o ânimo do depoente em delatar Joesley também aumentaria significantemente". 

Funaro contou que o seu ânimo para fazer uma delação era monitorado pelo empresário e que ele mandava recados para tranquilizá-lo. Um deles chegou a ser entregue a um advogado da JBS por sua irmã dentro de uma caneta Bic. O delator disse que a realização dos pagamentos lhe dava segurança de que Joesley não iria fazer delação. No entanto, decidiu adotar a mesma estratégia depois de saber que o empresário havia seguido esse caminho. Antes, Funaro afirmou que, embora tenha recebido valores da JBS, os pagamentos não tinham relação com "comprar o seu silêncio".

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