sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Joesley contratou delegado que atuou no caso Marcela Temer

O açougueiro bucaneiro Joesley Batista, um dos donos da JBS, preso a pedido da Procuradoria-Geral da República, depois ser acusado de quebrar seu acordo de delação premiada, contratou a empresa de “segurança e investigações” de um delegado da Polícia Civil de São Paulo que investigou em 2008 o assassinato de um diretor da companhia e que foi destacado em 2016 para atuar no caso da prisão do hacker que clonou o celular da primeira-dama, Marcela Temer. O delegado Rodolpho Chiarelli, que é do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), é sócio da SCR Consultoria de Segurança e Investigações, que foi contratada pelo grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

A Polícia Federal investiga o elo da empresa com a contratação de dois policiais civis de São Paulo que faziam a segurança particular de Joesley, quando ele prestou depoimento a investigadores da Operação Bullish, em 16 de junho, e na confecção de dossiês e investigações para a delação premiada dos irmãos Batista – que poderá ser revista no Supremo Tribunal Federal. O dois policiais foram interrogados, e a JBS já entregou informações sobre a contratação dos seguranças.

Em maio de 2016, Chiarelli participou da prisão de Silvonei José de Jesus Souza, condenado por extorquir a primeira-dama. Na época, Michel Temer era vice-presidente – o secretário de Segurança Pública de São Paulo era Alexandre de Moraes, que foi nomeado ministro da Justiça por Temer e agora é ministro do STF.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo confirmou que a SCR tem Chiarelli como sócio e “possui relação comercial na área de assessoria/consultoria em segurança empresarial com a J&F.” O nome de Rodolfo foi citado em conversa interceptada pela Polícia Federal na Operação Patmos, desdobramento da delação dos executivos da JBS, deflagrada em 18 de maio, pela Procuradoria Geral da República, que teve como alvos principais Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). A Polícia Federal não confirmou ainda se a citação é referente ao delegado.

No diálogo, o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, conversa com um interlocutor de nome Rodolfo sobre um relatório a ser produzido sobre o coronel João Baptista Lima Filho, o amigo de Temer suspeito de ter recebido propinas do grupo em nome do presidente. 

A Policia Federal registrou, em documento sobre as interceptações, que Saud vinha viajando constantemente para tratar de assuntos sobre o acordo de delação e citou a conversa de 20 de abril de 2017 com Rodolfo. Fala-se de “um relatório” mencionando o nome “Yunes” – José Yunes, outro amigo de Temer – e “solicita que Rodolfo informe que confirmou que no endereço funciona um escritório ligado àquela pessoa”. A pessoa seria o coronel Lima Filho, mostra a transcrição da conversa anexada pela Polícia Federal.

Saud afirma que vai a Nova York levar o documento. “E põe só confirmando que nesse endereço mora… é o escritório de fulano de tal, põe tudo aquilo, amigo do cara tal. Eu quero mostrar que você foi lá para mim e confirmar que lá era o coronel tal, tal, tal".

Sobre o questionamento relacionado ao grampo, a Secretaria de Segurança de São Paulo informou que o delegado disse que a contratação de sua empresa se deu por “um pedido de orientação do empresário” Joesley Batista. Nem a secretaria nem Chiarelli confirmam ou negam que o Rodolfo citado seja o delegado. Sobre o tema da conversa, a produção de relatório, a secretaria disse que o delegado explicou que “não produziu nenhum relatório ou investigação”. 

Chiarelli conduziu o inquérito que investigou a morte de Humberto Campos de Magalhães, de 43 anos, então diretor executivo da Friboi, que pertence à JBS. O corpo foi encontrado em 4 de dezembro de 2008 em um ponto de táxi, em frente ao prédio onde o executivo morava, na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo, a 500 metros do local onde foi baleado.

As investigações presididas pelo delegado apontaram a ex-esposa Giselma Magalhães como responsável pelo crime. Ela foi condenada a 22 anos e seis meses de prisão. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o inquérito foi distribuído “dentro das normas internas do departamento” e que o delegado negou ter recebido da empresa para atuar no caso.

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