domingo, 17 de setembro de 2017

Parlamento curdo iraquiano aprova referendo de independência


O Parlamento da região autônoma do Curdistão iraquiano aprovou na sexta-feira a realização de um referendo de independência em 25 de setembro. A votação, boicotada pela oposição, foi unânime. Após o voto a mão erguida, o vice-presidente do Parlamento, Jaafar Aimenky, que presidiu a sessão, indicou que o referendo será realizado na data prevista após “o voto unânime dos 65 deputados presentes”. Este referendo preocupa, além do Iraque, países vizinhos como Turquia e Irã, que temem que as idéias separatistas de Erbil se propaguem para suas próprias comunidades curdas. Também inquieta os Estados Unidos, que consideram a consulta popular como um obstáculo na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI), conduzida conjuntamente com os curdos. 

Numa tentativa de postergar a votação, os Estados Unidos e outros países apresentaram na quinta-feira ao presidente curdo Masud Barzani um projeto propondo alternativas ao referendo, segundo o emissário americano da coalizão que combate os extremistas no Iraque, Brett McGurk. Barzani, no entanto, insiste na independência como a única opção para o seu povo. 

Há mais de dois anos o Parlamento curdo não se reunia e foi após longas negociações que o Partido Democrático do Curdistão (PDK), de Barzani, conseguiu entrar em acordo com as demais formações curdas, a União Patriótica do Curdistão (UPK), de Khalal Talabani, e o Goran, para reabrir uma sessão parlamentar. 

Já o Parlamento federal chegou a votar em duas ocasiões contra o referendo de independência, a última delas na terça-feira. Nos dois casos, os deputados curdos abandonaram a sala em protesto. Há temores quanto a possíveis confrontos entre os peshmergas (combatentes curdos) e as muitas unidades paramilitares iraquianas espalhadas por todo o país. Além da votação do Parlamento federal contrária a realização do referendo, na terça-feira, o governador da província de Kirkuk foi destituído pelo governo iraquiano por organizar a votação em sua região. A província, rica em petróleo, é alvo de disputas territoriais entre Bagdá e as autoridades curdas. 

O Curdistão iraquiano dispõe desde 1991 de certa autonomia, que foi estendida ao longo dos anos. Ao anunciar em junho a data do referendo, Barzani enviou um sinal claro, segundo os especialistas, de que o Iraque entrava em uma nova fase. Depois de três anos de luta para expulsar os extremistas islâmicos – que chegaram a controlar um terço do país – o Iraque volta a se concentrar em seus problemas territoriais e étnicos de antes da chegada do EI. O influente comandante xiita Hadi al-Ameri, chefe da organização Badr – poderoso grupo paramilitar iraquiano apoiado pelo Irã – multiplicou recentemente as advertências contra uma “guerra civil”. 

Na quinta-feira, a Turquia alertou que a organização do referendo “terá um preço”, posicionamento capaz de comprometer a viabilidade de um possível Estado curdo, já que o Curdistão iraquiano obtém a maior parte da sua renda com a exportação de petróleo através de um gasoduto que chega ao porto turco de Ceyhan. Em razão dos riscos e ameaças internos e externos, os 5,5 milhões de curdos iraquianos chamados a votar sobre a independência estão divididos sobre a oportunidade de realizar esta consulta neste momento. 

Na quarta-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que apoia o estabelecimento de um Estado curdo independente. Israel mantém discretas relações militares, comerciais e de inteligência com os curdos desde os anos 1960 e vê a minoria étnica – cuja população está dividida entre Iraque, Turquia, Síria e Irã – como um tampão contra adversários árabes. “Israel apoia os esforços legítimos do povo curdo para conquistar seu próprio Estado”, disse Netanyahu em comentários enviados por seu escritório a correspondentes estrangeiros.

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