domingo, 19 de novembro de 2017

Morre aos 77 anos o estilista franco-tunisiano Azzedine Alaïa

Azzedine Alaïa, um dos maiores estilistas dos séculos 20 e 21, morreu no sábado (18) em Paris, aos 82 anos, em decorrência de um ataque cardíaco. A sua companhia confirmou a informação. Conhecido como escultor da forma feminina, e usado por mulheres como Michelle Obama e Lady Gaga, Alaïa era igualmente famoso por rejeitar o mercado de moda e por seu pensamento de que ele havia corrompido o poder criativo do que poderia ser uma forma de arte. Ele raramente cedia ao calendário oficial de desfiles, preferindo apresentar seu trabalho quando ele considerava estar pronto, ao contrário de quando o varejo ou a imprensa decidiam. Em vez disso, ele criou o seu próprio sistema e uma família de apoiadores e, desde a virada do milênio, havia se tornado uma crescente e importante voz pela busca à perfeição e pela exploração de uma estética única e autoral, e contrário a ceder à pressão implacável de produzir coleções.


Sua cozinha, onde ele era famoso por organizar almoços e jantares, nos quais frequentemente cozinhava, era seu "palanque", no qual ele presenteava seus convidados –que variavam de designers que haviam ido homenageá-lo até as Kardashians, o artista Julian Schnabel, o arquiteto Peter Marino e as costureiras de seu ateliê – noite adentro com opiniões, histórias e conselhos.

De baixa estatura – ao menos se comparado com supermodelos como Naomi Campbell, que o chamava de "Papa", e Farida Khelfa – ele estava sempre vestido com um uniforme de pijama de algodão preto chinês, e era famoso por trabalhar sozinho durante a noite, curvado sobre padrões e peças de tecido, com a programação da National Geographic passando na televisão.

Alaïa também era travesso (ele frequentemente mentia sobre sua idade, uma vez disse a um jornalista que sua mãe era uma modelo sueca, e gostava de se esconder dos empregados de seu ateliê para depois assustá-los pulando com um apito), propenso a rancores e extraordinariamente generoso. Ele dedicou sua vida na crença que moda era mais do que somente peças de roupa, mas sim um elemento no empoderamento das mulheres e a conversa cultural mais ampla.

Em 2015, uma exposição de seu trabalho na Villa Borghese Pinciana, em Roma, na qual seus vestidos foram expostos entre obras de Caravaggio e de Bernini, provou que ele atingiu o objetivo. Nascido na Tunísia, em 1935, Alaïa mudou-se para Paris em 1957 para trabalhar com Christian Dior, vivendo no quarto de empregada da condessa Nicole de Blégiers e pagando seu aluguel costurando roupas para ela e seus filhos. A notícia se espalhou e ele se tornou um segredo interno da boa e velha sociedade francesa; sua clientela incluía a escritora Louise de Vilmorin, as socialites Cécile e Marie-Hélène de Rothschild e a atriz Arletty. Ele abriu sua própria loja em 1979.

Alaïa apresentou sua primeira coleção "prêt-à-porter" (pronta para vestir) em 1980 e foi proclamado o "rei da silhueta justa" – embora na verdade suas roupas fossem muito mais do que isso: ele usava couros e malhas para dar forma e sustentar o corpo, transformando-o na melhor versão de si mesmo. Ainda que sua estética tenha saído de moda com o advento do minimalismo desconstruído nos anos 1990, ele nunca se permitiu distrair pelas tendências dos outros e, no ano de 2000, seguidores começaram a voltar ao seu ateliê na rua de Moussy, no 4º arrondissement de Paris, o complexo de edifícios onde ele morava, trabalhava e cozinhava.

Em 2007, a Compagnie Financière Richemont comprou a maior parte das ações de seu negócio, permitindo-o expandir em seu próprio ritmo: um perfume foi criado e a expansão da loja planejada, resultando em mais de 300 pontos de venda em todo o mundo até o ano passado. Para além das passarelas, ele criou para balés e óperas, passou a realizar exposições de arte em 2004 no espaço que também abriga seu showroom (uma programação regular começou em 2015 com a exposição do poeta sírio Adonis) e planejava uma livraria.

Alaïa retornou ao calendário da alta costura em julho, após seis anos, e na plateia estavam o ex-ministro francês da cultura, Jack Lang, a ex-primeira-dama da França e modelo de Alaïa, Carla Bruni-Sarkozy, a atriz Isabelle Huppert, o designer Marc Newson e o diretor do Museu de Arte Moderna de Paris, Fabrice Hergott. Ele havia se tornado uma espécie de tesouro nacional e todos estavam lá para prestigiá-lo. Ele deixa sobrinhos e sobrinhas, o pintor Christoph von Weyhe, seu companheiro, Carla Sozzani, sua colaboradora mais próxima, e todos aqueles que trabalharam com ele.

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