quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Rede Globo volta a ser citada como pagadora de propina no julgamento do cartola José Maria Marin

Mais uma das testemunhas de acusação do julgamento do ex-presidente da CBF, o cartola José Maria Marin, no escândalo de corrupção da Fifa, citou a TV Globo em esquema de pagamento de propinas por direitos de transmissão da Copa América e da Copa Libertadores. José Eladio Rodríguez, ex-braço direito de Alejandro Burzaco, o empresário argentino dono da Torneos y Competencias, disse que a T&T, uma offshore desse grupo de marketing esportivo, foi criada na Holanda para receber pagamentos de grupos de mídia, entre eles a emissora brasileira, que então seriam desviados aos chefes do futebol. Os valores, segundo Rodríguez, eram inflados na venda dos direitos a essas empresas para disfarçar o volume de verbas ilícitas embutida nos contratos. 

Rodríguez reconheceu José Maria Marin, ex-presidente da CBF que agora está sendo julgado em Nova York, como um dos que receberam propina. Ele citou ainda Marco Polo Del Nero, atual chefe do futebol brasileiro, e Ricardo Teixeira, que abandonou o mesmo cargo há cinco anos sob uma série de suspeitas. 

Nas planilhas da contabilidade paralela da Torneos y Competencias, examinadas em detalhe pela acusação diante do júri, os cartolas apareciam sob o nome "iluminados". Era a designação secreta de Rodríguez para destinatários de pagamentos - durante anos, a testemunha foi responsável por executar as transferências seguindo as instruções de seu ex-chefe. 

Nos exercícios fiscais sob a rubrica "iluminados", a palavra Globo aparece pelo menos quatro vezes, associada a pagamentos que chegam a US$ 12,8 milhões relativos aos direitos da Libertadores e da Copa Sul-Americana. O mais novo depoimento dado no julgamento, que está agora em sua quarta semana, repete alegações de Burzaco, dadas há duas semanas. 

Milhões de dólares fluíram das contas da Torneos para offshores e contas bancárias em instituições financeiras do mundo todo, entre elas os bancos Julius Bähr e Credit Suisse, na Suíça, e Hapoalim, com uma sede em Nova York. 

Rodríguez reconheceu diante do júri a mesma troca de e-mails com o ex-chefe em que discutiam a impaciência de Marin e Del Nero, irritados com a demora para receber seus pagamentos –os cartolas, segundo documentos da Torneos, recebiam US$ 600 mil, valor depois atualizado para US$ 900 mil por ano, relativos à manutenção dos contratos de transmissão dos campeonatos da Conmebol. 

Ele também confirmou que usava o termo "brasilero", presente em documentos da Torneos, como codinome de Teixeira e depois de Marin e Del Nero, que passaram a receber a parcela de propina antes destinada a Ricardo Teixeira. Em um ponto que atesta o que os advogados de defesa de Marin vinham frisando, Rodríguez se disse confuso ao identificar quem naquele momento presidia a CBF, já que Marin e Del Nero eram sempre vistos juntos –Burzaco, em seu depoimento, chegou a comparar a dupla de cartolas a gêmeos siameses. 

Rodríguez reconheceu Alexandre da Silveira, secretário pessoal de Del Nero, e José Hawilla, o brasileiro dono da Traffic, empresa de marketing esportivo, em fotografias mostradas pela acusação. Ele relatou telefonemas com Silveira e disse ter visto Hawilla em um encontro com Burzaco e os donos da argentina Full Play, Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, em Buenos Aires. Na ocasião, eles discutiam formar a joint venture Datisa, empresa que teria distribuído propina aos cartolas.

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