sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Defesa do cartola Marin acusa Del Nero e desqualifica testemunhas de acusação

Um sangramento no nariz atrasou as considerações finais da defesa de José Maria Marin. O ex-presidente da CBF, réu no escândalo de corrupção da Fifa, passou a manhã com um lenço junto ao rosto. A culpa pode ter sido do ar seco de Nova York, que amanheceu coberta de neve, mas reforçou a estratégia de advogados do cartola. Marin foi descrito aos jurados na Corte Federal do Brooklyn como um homem de idade avançada, frágil e quase senil. Seu advogado, Charles Stillman, lembrou que ele tinha mais de 80 anos quando assumiu o comando da CBF (Confederação Brasileira de Futebo) e mal sabia do que acontecia na direção da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e da Fifa no momento em que "a presidência da CBF despencou do céu em seu colo". "Ele estava em campo, mas não estava jogando", resumiu Stillman. "Ele participou do esquema de corrupção que acontecia ao redor dele ou só estava em campo no meio de tudo? Essa é a pergunta que os jurados devem fazer. Não podia ser mais claro seu papel marginal em tudo isso".

Stillman ainda voltou à analogia de Alejandro Burzaco, o empresário argentino que comandava a firma de marketing Torneos y Competencias no centro do esquema, de que Marin era como um rei que fazia os discursos e participava de cerimônias, mas era Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF, quem tomava as decisões. "Marco Polo era quem mandava no show do futebol brasileiro", disse Stillman. "Os discursos pertenciam a Marin, mas as decisões eram de Del Nero. Ele era visto como quem mandava na CBF". 

O advogado também lembrou que nas planilhas secretas de propina mantidas por Eladio Rodriguez, executivo da Torneos responsável pelas remessas, os pagamentos aparecem associados às iniciais "MP" e a "brasilero", termo singular, que indica, segundo Stillman, Del Nero. Uma a uma, as testemunhas que depuseram contra Marin no caso foram sendo desqualificadas por Stillman. Ele mostrou um cartaz aos jurados em que plaquinhas com os nomes de Burzaco, Rodriguez, J.Hawilla e outros delatores que fecharam acordos com a Justiça americana estavam presas com velcro. 

Cada vez que desmentia as afirmações de um deles, o nome era retirado desse quadro. Na visão de Stillman, J.Hawilla, o dono da Traffic, não pode ser confiável porque, durante seu testemunho, reconheceu ter mentido ao FBI, a polícia federal americana -ele fez um pagamento de propina depois de ter começado a negociação para fechar seu acordo de delação premiada. Burzaco e Rodriguez também não podem ser confiaáveis segundo o advogado de Marin, porque haviam feito arranjo semelhante com o governo dos Estados Unidos. 

Um único argumento novo apresentado apresentado ao júri é o fato de Marin nunca ter escondido sua conta no Morgan Stanley em Nova York. Batizada Firelli, a conta está no nome de Marin e sua mulher, Neusa. O formulário do banco mostrado aos jurados tem também a assinatura e o endereço do casal. "Se alguém quisesse esconder dinheiro, por que colocaria numa conta nos Estados Unidos? Isso não casa com a teoria de que ele tentou esconder dinheiro", disse Stillman. "Está claro que Marin e sua mulher eram os beneficiários dessa conta. Ele não tinha nada a esconder". 

Stillman também descartou como indícios de crime os gastos vistosos de Marin em lojas de luxo, lembrando que o cartola já era um homem abastado mesmo bem antes de assumir a direção da CBF. "Marin era rico", resumiu. "Pessoas ricas gastam dinheiro, e fazer isso não é crime". Ele argumentou ainda que as várias transferências para a conta de Marin realizadas pelas firmas Support e Expertise, do empresário Wagner Abrahão, poderiam ser "negócios legítimos" e que afirmar que as remessas eram pagamentos disfarçados de propina era "pura especulação". 

Seu último ponto foi que não há provas que Marin tenha lido o código de ética da Fifa e que não há ainda uma versão em português desse documento. A violação dos termos do regulamento, no caso, é o que embasa as acusações da Justiça americana.

Nenhum comentário: