quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Executivo brasileiro Fabio Tordin se declara "vigarista", diz que enganava J. Hawilla, o sócio da Globo, e ficava com o dinheiro da corrupção para si próprio

O brasileiro Fabio Tordin, ex-CEO da Traffic USA, contou nesta quarta-feira (6) em depoimento no julgamento do caso de corrupção da Fifa, na Corte Federal do Brooklyn, em Nova York, detalhes de como fazia a intermediação do pagamento de propina de empresas de marketing esportivo a dirigentes da Concacaf (Confederação de Futebol das Américas do Norte, Central e do Caribe). O executivo disse, por exemplo, que inflava os valores das propinas pedidas por dirigentes ao seu chefe para embolsar parte do pagamento. Tordin afirmou que começou a atuar no esquema após ser demitido pela Traffic, empresa na qual trabalhou entre 2003 e 2006, e se tornar sócio da empresa Imagina. Seu objetivo era tirar da Traffic USA os direitos de transmissão para países caribenhos nas eliminatórias da Concacaf para as Copas de 2014, 2018 e 2022. Em 2011, foi contratado como consultor pela Media World, de propriedade do empresário Roger Huguet, com a mesma meta. Foi lá que ele conheceu o colombiano Miguel Trujillo, ex-agente de futebol licenciado pela que Fifa, com quem começou a atuar para conseguir contratos de direitos de transmissão através de pagamento de suborno. Trujillo se declarou culpado em 2016 pelas acusações de lavagem de dinheiro, fraude e declaração falsa de imposto de renda. Na negociação de propina com Alfredo Hawit, então presidente da Federação Autônoma de Futebol de Honduras, Trujillo e Tordin negociaram pagamentos de propinas de US$ 500 mil pelas eliminatórias da Copa de 2018 e mais US$ 600 mil pela de 2022. No entanto, disseram para Huguet que o valor relativo a 2022 seria de US$ 1 milhão e embolsaram os outros US$ 400 mil. Ou seja, coisa de vigarista dando "banho" em outro vigarista.

Os dois primeiros países nos quais eles conseguiram tirar os direitos de transmissão das eliminatórias da Traffic foram Guatemala e El Salvador. Segundo Tordin, para conseguir os contratos, eram pagos US$ 200 mil por acordo para Jack Warner, então presidente da Concacaf e vice-presidente da Fifa. Eles ainda teriam acertado pagamento de mesmo valor (US$ 200 mil) pelos direitos de transmissão das eliminatórias na Costa Rica, mas a confederação não aceitou o contrato por "motivos internos", segundo informou na época a CFU (União Caribenha de Futebol). Nessa ocasião, segundo Tordin, Jack Warner em pessoa viajou até Miami para dizer a eles que o novo contrato não seria honrado e que manteriam os direitos com a Traffic. 

Pelos direitos de transmissão das eliminatórias da Copa em El Salvador, eles acertaram com os executivos da federação local de futebol pagar US$ 230 mil em propinas pelo torneio de 2018 e US$ 200 mil por 2022. A competição entre Traffic e Media World tornou as negociações complicadas, e as concorrentes resolveram formar uma parceria para negociar o pacote caribenho em conjunto. "Compramos então os direitos das eliminatórias direto da CFU com um acerto de pagamento de propinas a Jack Warner no valor de US$ 3 milhões. Metade seria pago pela Traffic e metade pela Media World. Como Jack Warner foi suspenso por receber propina para eleger o presidente da Fifa, ele foi tirado da Concacaf em 2011 e quem assumiu foi o Alfredo Hawit, que acabou herdando o direito aos pagamentos", disse o vigarista Tordin. Em 2016, no entanto, Hawit foi extraditado para os Estados Unidos para responder aos crimes de lavagem de dinheiro e fraude neste mesmo esquema.

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