terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Governo de Santa Catarina agora emporcalha o manguezal do rio Ratones e as praias de Daniela e do Sambaqui



O comerciante Creony Damasco se surpreendeu, no final de novembro, quando foi pescar às margens do Rio Ratones, com a quantidade de esgoto sendo jogado na água. Ele estava embaixo de uma ponte na estrada de Jurerê (SC-402), no norte da Ilha, e desistiu da pescaria. "Vim aqui no rio dar uma tarrafada igual fiz a minha vida inteira. Olha a quantidade de peixe que tem aqui. Eu podia ir ali dar uma tarrafada, mas não tenho coragem de entrar nessa água. Olha essa água podre!" — reclamou o morador em um vídeo que gravou denunciando a situação.

A poluição vinha de outro rio, o Papaquara, que recebe os efluentes tratados pela Casan na Estação de Tratamento de Canasvieiras. A companhia garante que só o efluente tratado, com 95% de eficiência, é despejado no curso d'água. Já a prefeitura acredita que essa contaminação seja causada por ligações irregulares de residências que despejam seus dejetos in natura no rio ou o trabalho clandestino de algum caminhão limpa-fossa.

Toda a água de Jurerê é captada do lenço freático, portanto, água podre, contaminada pelo esgoto jogado no rio Ratones pela emporcalhadora Casan. O grande problema, alerta o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), é que parte do rio Ratones tem manguezal, e esse esgoto pode poluir a Baía Norte e as praias da Daniela e do Sambaqui.

O mangue de Ratones é protegido pela Estação Ecológica (Esec) de Carijós, que ocupa uma área de 760 hectares. Lá vive uma quantidade incalculável de animais silvestres como aves, peixes, crustáceos e jacarés. O chefe da Esec, Ricardo Peng, argumenta que o Papaquara é de classe especial, e a legislação não permite o despejo de efluente em suas águas. O ambientalista teme que, durante a temporada, quando a população do norte da Ilha aumenta em até quatro vezes, a estação não consiga tratar todo o volume.

"Aqui é uma área de proteção integral, dedicada exclusivamente à pesquisa. Não tem visitação, não tem trilha. É para ser uma área intocável. Mas de quê adianta ser intocada se a gente receber esgoto?" — questiona ele. Peng cita uma liminar da Justiça Federal de agosto que impede que a Casan despeje efluentes no Papaquara. O juiz Marcelo Krás Borges determinou que a companhia implemente, em seis meses, um tratamento terciário da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Canasvieiras e, em um ano e meio, uma alternativa de lançamento de efluente que não seja nos rios que desaguam na Estação de Carijós. 

Também em agosto, a Casan foi multada em R$ 660 mil pelo ICMBio por conta de um vazamento de esgoto in natura durante o último verão em Florianópolis. Um relatório elaborado pelo instituto, com base em dados fornecidos pela própria Casan, concluiu que a ETE foi incapaz de tratar todo o esgoto que recebeu em pelo menos quatro oportunidades entre janeiro e março de 2017. O resultado foi um volume de mais de 33 milhões de litros de efluentes sem tratamento despejados no Papaquara. Ou seja, merda geral no rio Ratones, no manguezal do Ratones e na praia da Daniela, na entrada da baía norte de Florianópolis, promovida pelo governo do Estado de Santa Catarina. 

Segundo o presidente da Casan, Walter Gallina, as exigências feitas pelo Ministério Público Federal e pela Justiça Federal já estão finalizadas. Para evitar problemas parecidos, foram instalados geradores em todas as 74 estações elevatórias de esgoto da Ilha, responsáveis por captar o esgoto e enviar para a estação de tratamento. Além disso, a ETE de Canasvieiras teve a capacidade aumentada em mais de 100 mil litros/segundo após o episódio da poluição no Rio do Brás.

O engenheiro químico da Gerência de Meio Ambiente da Casan na ETE de Canasvieiras, Alexandre Trevisan, diz que o efluente que vai para o Papaquara, e dali para o rio Ratones, não é poluente.


Com relação à posição do chefe da Esec Carijós, de que o Papaquara possui classe especial que não permite o despejo de efluentes, Trevisan argumenta que quem faz essa classificação é a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, e que trata-se de um rio classe 2, que pode receber esse lançamento. Também afirma que o lançamento está autorizado pela licença ambiental da Fatma de operação da estação. Isso é o tipo de argumentação desqualificada, porque a Fatma é um horror, concede licenças inqualificáveis e já foi objetivo de operações da Polícia Federal. 

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