quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Gravação mostra J. Hawilla, o sócio da Globo, negociando pagamento de propina com Kleber Leite, para Ricardo Teixeira, Del Nero e José Maria Marin



Nas conversas mais explícitas sobre negociação de pagamentos de propina reveladas até agora no julgamento do escândalo de corrupção da Fifa, na Corte Federal do Brooklyn, em Nova York, o ex-empresário J. Hawilla, o dono da Traffic, e sócio da Rede Globo, e Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo e dono da Klefer, discutem em "tom carinhoso" pagamentos da propina a uma série de cartolas.

Os diálogos foram gravados por J. Hawilla, que assumiu culpa e colaborou com as investigações das autoridades americanas no escândalo de corrupção da Fifa. Eles foram apresentados nesta terça-feira (5) durante o julgamento do ex-presidente da CBF, José Maria Marin. "Era R$ 500 mil pro Ricardo Teixeira, R$ 500 mil pro Marco Polo Del Nero e R$ 500 mil pro José Maria Marin", diz J. Hawilla, o Jotinha, a Leite, o Klebinho, lembrando um acordo que eles fizeram de pagar R$ 1,5 milhão relativos à compra de direitos comerciais da Copa do Brasil.

Leite, em tom preocupado, discorda dos valores, dizendo que eram R$ 2 milhões, alegando ter feito "uma equação para incluir mais gente" e manter seu "compromisso moral" de continuar fazendo as remessas para Ricardo Teixeira mesmo depois que o cartola havia renunciado à presidência da CBF, em 2012. O contrato firmado pela Traffic e pela Klefer com a CBF foi negociado quando Teixeira ainda estava no comando da organização que regula o futebol brasileiro.

Quando ele foi substituído no cargo por José Maria Marin, ex-presidente da CBF que está sendo julgado agora em Nova York, e Marco Polo Del Nero assumiu as funções de Teixeira na Fifa e na Conmebol, a propina das empresas de J. Hawilla e Leite passou a ser compartilhada pelos três. Uma série de e-mails entre J. Hawilla e Flavio Grecco, executivo da Traffic, mostram, de fato, que essa nova equação a que se referiu Leite aumentou para R$ 2 milhões o valor pago aos cartolas, R$ 1 milhão para Teixeira e R$ 1 milhão para Marin e Del Nero — parte das transferências era feita pelo Delta, um banco sediado em Miami.

Na conversa gravada por J. Hawilla como parte de um acordo de delação premiada com a Justiça americana, Leite aparenta nervosismo e desconfiança. "Aqui não é Estados Unidos, aqui é um perigo filho da puta. Não dá para falar dessas coisas no telefone". E também alude às anotações apreendidas na sede da Klefer, no Rio de Janeiro, como registros dos pagamentos de propina.

"O que é tá lá no meu cofre bonitinho. Eu tenho tudo no meu cofre com a minha letra, eu mesmo escrevi", afirma. José Maria Marin, réu no processo que ainda se declara inocente, também aparece pela primeira vez flagrado numa conversa sobre propina. No evento de lançamento da Copa Centenário, há três anos, em Miami, J. Hawilla pergunta se tudo já estava acertado com Kleber Leite. Ele responde que sim e também diz que a "conversa está indo muito bem" com Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, os argentinos donos da Full Play, que teriam pago propina a ele e Del Nero relacionada a direitos da Copa América. Marin diz não saber se havia recebido, mas que ele iria "conferir com Marco Polo".

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