segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

J. Hawilla, o sócio da Globo, diz no tribunal do Brooklyn que corrompeu cartolas durante três décadas


Uma das testemunhas mais aguardadas no julgamento do escândalo de corrupção da Fifa, o muito corrupto brasileiro José Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic e réu confesso no caso, afirmou em Nova York que pagou propina a cartolas latino-americanos, entre eles o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ao longo das últimas três décadas. 

J. Hawilla disse que o acordo com Teixeira, que chamou de "uma das vozes e presenças mais importantes nas decisões" da Conmebol, visava garantir que a seleção brasileira disputasse as partidas da Copa América - torneio do qual detinha os direitos de transmissão - com "os seus melhores jogadores". O ex-presidente da CBF teria recebido pelo menos US$ 10 milhões, segundo o empresário, que fez acordo de delação premiada nos Estados Unidos e chegou à Corte de Justiça do Brooklyn com dificuldade para respirar, usando um tanque de oxigênio. 

Nas primeiras horas de seu depoimento, Hawilla também deu detalhes da origem do esquema de corrupção. O empresário disse ter feito o primeiro pagamento quando assinou o contrato com a Conmebol para realizar a edição de 1987 da Copa América, torneio que ele mesmo havia reformulado. Ele afirmou ter repassado "entre US$ 400 mil a US$ 600 mil" ao paraguaio Nicolás Leoz, então chefe da entidade. 

Hawilla disse ter "ficado refém" de Leoz desde então. "Ele começou a me ameaçar. Se não pagasse, ele tiraria o contrato. Foi um erro porque abriu uma porta para o futuro, que permitiu que ele pedisse dinheiro a cada renovação de contrato", disse o empresário, falando sobre Leoz. "Eu paguei porque precisava do contrato. Foi um erro e me arrependo muito." Pagamentos a Leoz chegaram a bater a marca de US$ 1 milhão. Hawilla disse que grande parte das transferências eram para o ex-presidente da Conmebol, Ricardo Teixeira e Julio Grondona, ex-chefe do futebol argentino. 

Hawilla também deu detalhes de negociações internas da Conmebol e do racha entre a Traffic e as empresas de marketing argentinas Torneos y Competencias e Full Play. Essas duas últimas entraram na disputa por direitos depois que o equilíbrio de poder dentro da Conmebol mudou com a ascensão do chamado Grupo dos Seis, que reunia cartolas de Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru, Paraguai e Equador. Juntos, eles ameaçaram derrubar Leoz e refazer vários contratos. Hawilla chamou o caso de "golpe de Estado" dentro da Conmebol e abriu então um processo contra os cartolas. Essa ação movida nos Estados Unidos só foi interrompida quando o brasileiro chegou a um acordo com seus parceiros argentinos, que ele disse sentirem "orgulho" de pagar propina. 

Depois de perder a queda de braço com os argentinos, Hawilla concordou em entrar com eles na sociedade de uma empresa chamada Datisa, criada para comprar direitos da Copa América e da Copa Libertadores da Conmebol. Essa empresa, segundo o empresário, passou então a realizar os pagamentos de propina a vários cartolas por meio de empresas offshore. Em gravações de conversas dele com Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, pai e filho, donos da Full Play, Hawilla discute como pagamentos eram feitos por meio de offshores, entre elas a Bayan, criada pelos Jinkis no Panamá. Ele também fala em vender a Traffic, o que deixa os argentinos preocupados com a possibilidade de um futuro sócio passar a se opor a pagar subornos. 

J. Hawilla disse ainda que os pagamentos de propina acabaram se tornando parte necessária dos negócios com a Conmebol, porque eram a única garantia que os torneios fossem disputados de um jeito que pudesse gerar lucro para os patrocinadores e as emissoras de televisão. "Não basta comprar um campeonato. Você precisa ter a colaboração deles, senão não consegue formatar um campeonato que atenda às necessidades das televisões do mundo inteiro e dos patrocinadores", afirmou Hawilla. 

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