segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Policia Federal volta a investigar contratos suspeitos da UFSC em nova operação


A Polícia Federal desencadeou na quinta-feira (7) a Operação Torre de Marfim que apura "aplicação irregular de verbas públicas federais destinadas a projetos de pesquisa desenvolvidas por fundações de apoio da UFSC", a Universidade Federal de Santa Catarina. A investigação não tem relação com a Operação Ouvidos Moucos, deflagrada em setembro. Dias depois, o reitor da UFSC, Luiz Cancellier, um dos alvos da Ouvidos Moucos e que chegou a ficar preso por um dia, cometeu suicídio em um shopping de Florianópolis. Agora estão recomendando em Florianópolis que o Shopping Beiramar, na Avenida Beiramar Norte, coloque proteções de vidro nos vãos do último andar inteiro, para impedir novos suicídios. 

As investigações apontam para irregularidades que aconteceram desde ao menos 1996, na gestão de seis reitores, entre eles a de Cancellier, que havia assumido a reitoria em 2016. A Polícia Federal também informou que os contratos investigados somam R$ 500 milhões. Um grupo de 90 policiais federais, servidores do Tribunal de Contas da União e da CGU cumpriram 14 mandados de busca e apreensão e seis mandados de condução coercitiva em Florianópolis e Balneário Camboriú (SC). 

As ordens judiciais foram expedidas pela 1ª Vara Federal de Florianópolis. "Os fatos relacionados nesta operação se davam em projetos muito antigos que apresentavam uma série de irregularidades. Direcionamos as investigações para os coordenadores destes projetos e percebemos que eles continuavam a atuar da mesma forma irregular", disse o delegado federal Christian Barth em Florianópolis. A apuração dos desvios começou por volta de 2014. Os servidores investigados têm contrato de dedicação exclusiva com a UFSC e, segundo a Polícia Federal, possuem patrimônio incompatível com os salários. 

Eles gerenciavam recursos federais que eram repassados às fundações para a contratação de serviços que eram feitos por empresas fantasmas e que em alguns casos estavam registradas no nome dos próprios servidores ou de familiares. 

"Nós temos um processo aberto no Tribunal de Contas da União onde ex-servidores da UFSC e gestores destas fundações já foram chamados à restituir os cofres públicos a quantia de R$ 20 milhões devido a irregularidades na aplicação", disse o secretário do TCU, Waldemir Paschoiotto. 

O delegado Barth disse ter identificado "incompatibilidade" entre os salários de servidores da UFSC, que têm dedicação exclusiva, e as movimentações financeiras obtidas após a quebra do sigilo fiscal. "Em análises prévias, observamos que há servidores que têm patrimônio, em nome próprio ou em de familiares, que chega ao montante de R$ 7 milhões. Os salários destes servidores não superam os R$ 17 mil líquido". 

Os mandados foram cumpridos na casa de servidores da UFSC em Florianópolis e também em Balneário Camboriú, bem como em salas das Fundações de Apoio à pesquisa da UFSC, como a Fapeu (Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária) e Feesc (Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina). A Polícia Federal não informou o endereço das residências nem os alvos. 

No total foram seis conduções coercitivas entre empresários e servidores da UFSC. Todos os alvos que estavam em Florianópolis, cinco no total, foram encontrados e levados para a sede da Polícia Federal, no bairro da Agronômica. na Avenida Beiramar Norte. Já a pessoa de Balneário Camboriú que deveria ser conduzida pela Polícia Federal coercitivamente não foi encontrada. 

Os pedidos de condução coercitiva foram feitos pela Polícia Federal. Um pedido de prisão também havia sido feito, porém a Justiça Federal na capital catarinense indeferiu esse pedido. Segundo a Polícia Federal, a investigação da Torre de Marfim começou em 2014, a partir de uma comunicação feita pelo gabinete da Reitoria da UFSC, que fora "instruída com nota técnica e relatórios elaborados pela CGU" e analisava "aparentes irregularidades em projetos de pesquisa desenvolvidos com uso de verbas públicas federais firmados em 2003 e 2004". 

A investigação não tem relação com Cancellier, que tomou posse na reitoria em maio de 2016. Uma das irregularidades identificadas, segundo a Polícia Federal, foram "indícios de contratações de serviços sem licitação prévia, pagamentos realizados a empresas pertencentes a gestores de projetos, que estariam vinculadas a servidores da universidade ou das fundações de apoio e até mesmo pagamentos efetuados a empresas fantasmas". 

Conforme a Polícia Federal, dois dos servidores investigados "teriam movimentado cerca de R$ 300 milhões em contratos na coordenação de projetos e convênios entre os anos de 2010 e 2017". "Durante este período foram identificadas diversas irregularidades quanto à execução financeira e apontando para o desvio de verbas públicas e para a prática de outros crimes licitatórios", informou a Polícia Federal. Um dos contratos questionados pelo TCU, segundo a Polícia Federal, dizia respeito a "um servidor aposentado da universidade, que também foi gestor de projetos e teve sua própria empresa contratada por cerca de R$ 20 milhões, sem licitação". 

Os crimes em tese investigados são "peculato e lavagem de dinheiro", além de "atos de improbidade administrativa". Segundo a Polícia Federal, "antes de serem levadas à apreciação do Ministério Público e do Poder Judiciário", as irregularidades "foram auditadas pelos órgãos de controle como CGU e TCU" e as auditorias "geraram recomendações, solicitando a correção de práticas administrativas que poderiam levar ao mau uso do dinheiro público, o que não foi atendido pelos administradores". 

Nenhum comentário: