segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Brasil vai se tornar líder mundial de exportação de milho em cinco anos, tirando a liderança dos Estados Unidos

O Brasil pode eclipsar os Estados Unidos como o maior exportador de milho dentro de cinco anos, dando fim a décadas de domínio norte-americano do mercado de um dos alimentos básicos do mundo. Produtores dos Estados Unidos, que por gerações se orgulham de estar no celeiro do mundo, agora sofrem com os preços dos grãos e infraestrutura envelhecida. Os esforços de Washington para renegociar acordos comerciais também podem afetar as exportações. Ao mesmo tempo, o Brasil está colhendo os benefícios de seu investimento massivo em infraestrutura para exportação. Em 2012/13, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos como maior exportador de soja. Três anos depois, a Rússia desbancou os Estados Unidos do primeiro lugar na exportação de trigo. "Se você olhar cinco, dez anos adiante, o Brasil vai competir com os Estados Unidos para ser o primeiro exportador de milho do mundo", disse Michael Cordonnier, presidente da consultoria Soybean and Corn Advisor. "Eles têm terra, centenas de milhões de hectares que podem ser voltados para a produção; eles têm o clima; eles têm o know-how. Do ponto de vista agronômico, não há limites a vista". 

Bilhões de dólares investidos nos portos do Brasil, principalmente no Norte, encerraram anos de atrasos crônicos na exportação, tornando o envio mais barato, impulsionando compras de consumidores como a China. Além de soja, o Brasil também é o maior fornecedor de carne bovina, de frango, açúcar, café e suco de laranja. O Brasil está aquém dos Estados Unidos em infraestrutura rodoviária, mas melhorias graduais são esperadas na área. Os fazendeiros norte-americanos enfrentam seus próprios desafios. Um bloqueio no sistema de barragens nos rios do Meio-Oeste feriu a reputação dos Estados Unidos como fornecedor de grãos mais confiável do mundo. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta que as exportações de milho dos Estados Unidos vão diminuir em 6,2 milhões de toneladas, volume avaliado em aproximadamente 1 bilhão de dólares, no atual ano comercial. Enquanto isso, espera-se que as exportações de milho do Brasil aumentem em 1 milhão de toneladas ante o ano anterior, acelerando a ascensão do Brasil no setor. "Se nós não olharmos para o futuro, terá um ponto em que seremos empurrados para o segundo lugar", disse Fred Helms, um fazendeiro de Illinois que viajou recentemente pelo Brasil e pela Argentina com o Illinois Farm Bureau para ter uma noção da competição: "Não é divertido ser o número dois". 

O clima mais quente do Brasil dá aos produtores uma temporada mais longa do que seus equivalente nos Estados Unidos. A maior parte dos produtores brasileiros pode semear o milho logo após colher a soja, plantando duas safras de milho por ano. Os fazendeiros dos Estados Unidos têm que esperar o inverno passar. Isso levou a um salto nas plantações de milho brasileiras já que os fazendeiros lutam para impulsionar a produção de soja para satisfazer a demanda da China, disse Cordonnier. Espera-se que o milho dos Estados Unidos represente apenas 33,8% das exportações globais de milho no ano-safra de 2017/18, caindo dos 62,6% de uma década atrás, de acordo com as projeções do USDA.

As projeções do Brasil da exportação de milho de 35 milhões de toneladas corresponderiam a 22,7% dos embarques globais. Há 20 anos, o Brasil exportou apenas 6 milhões de toneladas, menos de 1% do total mundial. "Dez anos atrás ninguém acreditaria que o País alcançaria isso", disse Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec, a associação dos exportadores de cereais do Brasil: "Os produtores do Brasil são muito eficientes e as coisas aconteceram rápido". Os dados mais recentes do governo do Brasil mostram que o País exportou 3 milhões de toneladas de milho em janeiro, mais que o dobro das 1,45 toneladas enviadas para Exterior um ano antes. 

Os Estados Unidos caíram brevemente da sua posição como maior exportador de milho em 2012/13, mas isso foi causado pela seca. Da próxima vez que o Brasil ultrapassar os Estados Unidos provavelmente será algo duradouro. Mudanças em pactos comerciais podem acelerar o declínio da participação de mercado dos Estados Unidos. Os Estados Unidos, o Canadá e o México estão renegociando o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). Esse acordo deu aos fazendeiros norte-americanos livre acesso ao seu principal cliente, o México, que representava 23,8% dos envios de milho dos Estados Unidos no ano-safra de 2016/17. Vendedores brasileiros já estão fazendo incursões ao México. 

Por enquanto, o USDA prevê que os Estados Unidos vão se manter como o principal exportador de milho pela próxima década, mas com a participação de mercado caindo para menos de 30%. "Nós não somos mais os únicos jogadores no mundo", disse Mark Welch, professor assistente no Departamento de Economia Agrícola na Universidade do Texas A&M. "É crítico que os Estados Unidos mantenham um lugar à mesa em se tratando de acordos comerciais, relações comerciais e parceiros comerciais". 

Segundo as previsões do Usda, a elevação do padrão de renda na China tornará o país mais dependente do mercado externo também em relação à aquisição de proteínas. As importações de carne bovina deverão crescer 73%, atingindo 1,6 milhão de toneladas, e as de frango, 36%, num total de 660 mil toneladas.

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