domingo, 11 de fevereiro de 2018

Engenheiro disse em depoimento que a propineira Odebrech não queria ser identificada enquanto reformava o sítio de Atibaia para o bandido corrupto


Frederico Barbosa, ex-engenheiro da Odebrecht, disse ao juiz Sergio Moro na quarta-feira (7) que foi orientado a garantir que os funcionários da obra no sítio de Atibaia (SP) não utilizassem uniformes com identificação da empreiteira, para que a empresa não fosse exposta. Ele prestou depoimento como testemunha de acusação na ação penal que investiga se o bandido corrupto, lavador de dinheiro, chefe da organização criminosa petista e ex-presidente Lula se beneficiou de R$ 1,02 milhão em benfeitorias no sítio, que teriam sido pagas pelas construtoras propineiras Odebrecht e OAS. Barbosa reafirmou que participou das obras a mando da empresa e disse ter sido comunicado de que os trabalhos seriam para Lula. Relatou, ainda, que também realizou a avaliação de uma obra no apartamento do petista, em São Bernardo do Campo. Ele também disse que Rogério Aurélio Pimentel, ex-assessor de Lula, era responsável e tinha todo o poder de decisão sobre a obra. Segundo ele, Aurélio interferiu pouco na execução, mas acompanhou a evolução do trabalho, aprovando o que seria feito. 

O engenheiro afirmou que, a pedido de Emyr Costa, seu superior, contatou uma empresa pequena, do empreiteiro Carlos Rodrigues Prado, para realizar a obra. Como o empresário teria dito que não conseguiria executar o trabalho sozinho, o engenheiro relatou que a Odebrecht decidiu ajudar na construção. Emyr teria afirmado a Barbosa que a Odebrecht ficaria responsável pelos recursos para a obra. Em seu depoimento, Barbosa estimou os custos de materiais em R$ 500 mil, sem contar com o pagamento da empresa de Carlos Rodrigues Prado, cuja operacionalização o engenheiro disse desconhecer. Ele declarou, ainda, que não sabe se a Odebrecht foi ressarcida pelos valores. "O recurso era oriundo do Emyr. Se houve remessa para o Emyr eu desconheço".

O engenheiro disse a Moro que a recomendação de Emyr era de que Aurélio procedesse com os pagamentos dos materiais, porque Barbosa não deveria fazê-lo em nome da empresa. Em quatro ocasiões, ele teria recebido de Emyr dinheiro em espécie, em envelopes fechados, cada um com cerca de R$ 70 mil. Em seguida, teria repassado os valores a Aurélio. Segundo ele, não foi formalizado contrato para a obra. 

Em depoimento a Moro, Salim Schahin, delator e sócio do grupo Schahin, voltou a afirmar que o pecuarista José Carlos Bumlai o procurou, em 2004, acompanhado do ex-tesoureiro do PT, o bandido mensaleiro Delúbio Soares, que teria dito que o partido precisava de empréstimo urgente. Schahin relatou que Bumlai foi cobrado diversas vezes pelo empréstimo de R$ 12 milhões porque não teria honrado o pagamento. Schahin afirmou que, posteriormente, o grupo ficou sabendo da oportunidade de operar o navio-sonda Vitória 10.000. Ele disse que tinham "grande experiência" e condições de pleitear a operação, mas que perguntou a João Vaccari, então tesoureiro do PT, se haveria a possibilidade de ter um apoio político. Vaccari teria afirmado que sim, desde que o empréstimo de Bumlai fosse quitado. Ele teria dito que o ex-presidente Lula estava a par da situação. A negociação foi confirmada pelo irmão de Salim, Milton, que também prestou depoimento nesta quarta. 

No processo que envolve o sítio de Atibaia, o bandido corrupto, lavador de dinheiro, chefe da organização criminosa petista e ex-presidente Lula é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo a acusação, ele se beneficiou de R$ 1,02 milhão em benfeitorias no imóvel, que era frequentado por Lula e seus familiares. As reformas foram pagas pelas empreiteiras propineiras Odebrecht e OAS. De acordo com a Procuradoria, os valores usados nas reformas vieram de contratos das empreiteiras na Petrobras, e repassados como vantagem ilícita ao ex-presidente. Lula também teria pedido R$ 150.500,00 ao pecuarista José Carlos Bumlai, seu amigo, para que fossem realizadas reformas no sítio. 

Em setembro de 2016, Moro condenou Bumlai por ter adquirido em 2004 um empréstimo de R$ 12 milhões com o grupo Schahin em nome do PT. A dívida, segundo a acusação, foi quitada posteriormente por meio do contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000. 

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