domingo, 4 de fevereiro de 2018

Explosão de condomínios de luxo e mansões no Campeche enche a praia de merda em Florianópolis


A praia do Campeche, em Florianópolis, tem mar gelado, ondas grandes e correnteza forte. Mesmo assim, nos últimos anos se tornou uma das mais procuradas por turistas e por quem quer viver em Florianópolis. Até os anos 2000, a praia com dunas rústicas e várias ruas sem asfalto era o destino de quem buscava sossego e contato com a natureza. Agora, tem atraído condomínios com apartamentos de quatro quartos a R$ 2,1 milhões, o que só se via em áreas como Jurerê Internacional. 

O crescimento acelerado aumentou o volume de merda, refletindo na qualidade da água. Localizada no sul da ilha, a 25 km do centro, a praia do Campeche não tem rede de esgoto, nenhum bairro dessa área da cidade tem. Os moradores são orientados a construir fossas. Condomínios devem instalar sistemas compactos de tratamento de esgoto. O problema é que há vazamentos, e o esgoto chega à praia via rios ou em enxurradas após as chuvas. 

Nesta temporada, moradores e turistas já gravaram vídeos que mostram esgoto correndo em direção ao mar. Na área central da praia, análises da Fatma (Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina) indicam que a balneabilidade do local se mantém estável há décadas. Em 1997, todos os 22 testes aprovaram o local para banho. O mesmo ocorreu nos 27 exames de 2007 e nos 27 de 2017, períodos consultados aleatoriamente pela. Mas na ala esquerda da praia, onde está o maior foco do crescimento imobiliário, a poluição impressiona. Em 2011, no primeiro ano de análises no local, 12 dos 24 testes consideraram a área imprópria para banho. No ano passado, foram 14 rejeições em 27 testes. 


O Campeche era um paraíso que se tornou infernal por causa do esgoto, diz Maria Lucia das Chagas, do Movimento SOS Campeche Praia Limpa. A entidade estima que a população no Campeche saltou de 9.000 habitantes, em 2008, para 40 mil. A poluição no mar, na opinião da Associação de Moradores, se deve ao crescimento imobiliário e populacional. Permitiram um crescimento incompatível. O norte e o leste da ilha já estão saturados. O sul está sendo ocupado sem planejamento, afirma Alencar Vigano, presidente da Associação de Moradores do Campeche. Lucas Arruda, superintendente de Habitação e Saneamento da Secretaria de Infraestrutura de Florianópolis, diz que a prefeitura está atenta aos impactos ambientais do crescimento urbano na praia do Campeche. A prefeitura criou limite de dois pisos às novas construções, tem fiscalizado o esgoto das casas e dos condomínios e atua para criar rede e estação de tratamento de esgoto, afirma a administração. A estação ficará pronta em 2019, segundo a Casan (Companhia Catarinense de Água e Saneamento). De início, atenderá 25 mil pessoas. Depois, com a ampliação do sistema, poderá atender até 90 mil pessoas. Até lá, nos próximos dois ou três anos, no mínimo, as águas da praia do Campeche estarão dominadas pela merda.

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