domingo, 25 de fevereiro de 2018

Venezuelanos perderam 11 kg em média por causa da falta de comida


Em meio à grave crise econômica, escassez e a maior superinflação do mundo, nove em cada dez venezuelanos vivem abaixo da linha da pobreza, e mais da metade deles estão no patamar da pobreza extrema, segundo estudo divulgado na quarta-feira (21). De acordo com a Pesquisa sobre Condições de Vida (Encovi), realizada anualmente pelas principais universidades da Venezuela, os venezuelanos perderam em média 11 quilos em 2017. Seis em cada dez admitem já terem ido dormir com fome por falta de comida. Para especificar a porcentagem da população na pobreza, os especialistas aplicaram um questionário de 16 páginas e entrevistaram 6.168 famílias em todo o país.

A condição de pobreza foi extraída dos dados coletados e analisados sob diferentes métodos, como linha de pobreza, necessidades básicas insatisfeitas, e medição multidimensional da pobreza. Dentro das respostas obtidas, os especialistas estabeleceram que 61,2% dos entrevistados viviam em pobreza extrema, enquanto 25,8% foram considerados pobres – na soma, praticamente nove em cada dez venezuelanos viveu na pobreza em 2017. O estudo refletiu uma dramática deterioração da qualidade de vida dos venezuelanos ao avaliar o aumento da pobreza e sua incidência em emprego, educação, criminalidade, nutrição e saúde em geral.

A pesquisa é realizada anualmente desde 2014 pelas Universidade Central da Venezuela (UCV), Universidade Simón Bolívar (USB) e a Universidade Católica Andrés Bello (UCAB). A socióloga María Gabriela Ponce, da UCAB, afirmou que entre os resultados desta pesquisa foi observado que a pobreza extrema aumentou na Venezuela de 23,6% para 61,2% em quatro anos e quase dez pontos percentuais apenas entre 2016 e 2017. Ponce exibiu um gráfico que mostra que em 2014 a pobreza extrema afligia 23,6% da população – 2015 (49,9%), 2016 (51,5%) e em 2017 (61,2%). As estatísticas mostraram também que os domicílios considerados "não pobres" em 2014 representavam 51,6% dos consultados, enquanto em 2015 já eram apenas 27%, passando em 2016 para 18,2% e a 13% em 2017.

Os especialistas que participaram do estudo deixaram claro que estes dados não refletem o impacto nos domicílios consultados sobre o processo de hiperinflação, que estourou em outubro do ano passado – os dados foram coletados entre julho e setembro de 2017. Marianella Herrera, pós-graduada em Nutrição Clínica na USB, disse que 64% dos entrevistados relataram ter perdido uma média de 11 quilos no último ano por não terem acesso a alimentos. Herrera relatou que 61% dos entrevistados disseram ter "ido para a cama com fome" porque não tinham comida suficiente e 90% disseram que sua renda "não é suficiente" para comprar a quantidade necessária de alimentos.

Os resultados apresentados pela especialista em nutrição indicam que 63% das pessoas praticaram "a estratégia" de "produzir alimentos em casa", eliminaram refeições ou cortaram porções em seus pratos. "Cerca de 20% não tomam café da manhã, e os lanches são praticamente inexistentes, enquanto 70% dizem não ter suficiente para comprar alimentos saudáveis e balanceados", disse Herrera. A especialista acrescentou que "80% dos domicílios possuem algum grau de insegurança alimentar" e têm uma "dieta anêmica". Segundo Anitza Freitez, especialista em Estudos Sociais da UCAB, três de cada quatro crianças da população mais pobre entre as idades de três e 17 anos deixaram de frequentar a escola com frequência devido à falta de comida.

O sociólogo da UCV Roberto Briceño León, diretor da ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV), disse que, de acordo com o estudo, a insegurança aumentou no país no ano de 2017 – um em cada cinco foi vítima de um crime. León apontou que a violência "ocupou quase todo o país" – dados da pesquisa mostram que apenas 10% das comunidades não registraram um crime violento. Ainda segundo León, 41% dos cidadãos entrevistados "sentem a necessidade de se mudar" do bairro ou de sair da Venezuela – um número que aumentou significativamente devido à "situação de violência sustentada e grave" desde 2014, quando apenas 28% expressaram o desejo de se mudar.

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