sábado, 17 de março de 2018

Terrorista comunista venezuelano Carlos "O Chacal" é condenado pela terceira vez à prisão perpétua na França

O venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como Carlos "O Chacal", foi condenado na quinta-feira (15) a uma terceira pena de prisão perpétua, neste caso por um atentado cometido em 1974 em Paris, em um julgamento de apelação que se posiciona como seu último na França. Carlos, figura do terrorismo "anti-imperialista" dos anos 1970-80, não esteve presente na corte parisiense durante o veredicto, já que se negou a se apresentar no último dia de audiência, alegando supostos maus tratos dos guardas. Sua condenação à terceira pena de prisão perpétua foi feita há um ano, mas ele havia recorrido. Carlos, que hoje tem 68 anos, nega qualquer implicação com o ataque. O ataque terrorista ao centro comercial Drugstore Publicis deixou dois mortos e 34 feridos. Carlos Ilicch (nome em nome a Karl Marx e Wladimir Ilich Lenis) está preso na França desde sua detenção no Sudão pela polícia francesa, em 1994. Ele já foi condenado duas vezes à prisão perpétua pelo assassinato de três homens - entre eles dois policiais, em 1975, em Paris - e por quatro atentados com explosivos que deixaram 11 mortos e 150 feridos em 1982 e 1983, em Paris, Marselha e em dois trens. Nessa época ele atuava na Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), organização árabe comunista.

Essa besta, em 1975, comandou um dos mais espetaculares atos terroristas: sequestrou onze ministros de países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que estavam reunidos em Viena, na Áustria. No episódio acabaram morrendo três pessoas. Nas décadas de 1970 e 1980 era o homem mais procurado do mundo por todos os serviços secretos ocidentais.

Ele nasceu na Venezuela, filho de um advogado venezuelano comunista, preferência ideológica evidente na escolha dos prenomes de seus três filhos: Vladimir, Ilich e Lenine, referentes ao chefe bolchevique russo, Lenine (cujo nome original é Vladimir Ilyich Ulyanov). Carlos estudou numa escola de Caracas e juntou-se ao movimento da juventude comunista em 1959. Ele fala correntemente espanhol, árabe, russo, inglês e francês. Em 1966, após o divórcio dos seu pais, foi com a mãe e o seu irmão para Londres, para continuar os seus estudos na faculdade de Stafford House Tutorial em Kensington. Em 1968, seu pai tentou levá-lo para Universidade de Sorbonne, mas ele foi para a universidade Patrice Lumumba, em Moscou, de onde foi expulso em 1970.

Em 1973, com 24 anos, ingressou na organização comunista Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), e a serviço deste grupo terrorista tentou assassinar em Londres o empresário Joseph Shieff, presidente da Marks & Spencer e vice-presidente da Federação Sionista do Reino Unido e Irlanda. Ele fracassou na tentativa. Já mostrava aí o seu caráter antissemita, característico da esquerda mundial. Em 1975, executou o sequestro que lhe deu fama mundialmente: reteve como reféns onze ministros de países-membros da OPEP, que estavam reunidos em Viena, Áustria. O incidente acabou com a morte de três pessoas e a sua fuga. 

O ataque aos membros da OPEP foi apenas o início, já que os ataques sucederam-se. Carlos teve outra iniciativa antissemita ao lançar uma granada contra um banco israelita em Londres, duas bombas em uma uma farmácia em Paris, atentados contra aviões de Israel, da companhia aérea israelense El Al, estacionados no Aeroporto de Orly; ataque contra um comboio de passageiros que ia de Paris para Toulouse, no qual supostamente estaria o primeiro-ministro francês, Jacques Chirac. Em todas estas ações, ele sempre conseguia escapar das polícias secretas.

Carlos, o "Chacal", era naquele momento o "inimigo público", o mais procurado do mundo, pelas principais policias secretas. Ao contrário de Bin Laden, ele participava pessoalmente nas ações, nas quais era o responsável por tudo, apenas tinha colaboradores que o ajudavam. Quanto aos colaboradores de Carlos, a lista é igualmente extensa, suspeitando-se que tenha colaborado com os regimes líbio de Muammar al-Gaddafi, iraquiano de Saddam Hussein, sírio de Hafez al-Assad, cubano de Fidel Castro, e ainda com vários países do Leste Europeu, as Brigadas Vermelhas da Itália ou o movimento M19 da Colômbia. Ele também teve um parceiro gaúcho. 

Sua retirada de ação não é muito clara. Por várias vezes a CIA, a DST (Direction de la Surveillance du Territoire) e o Mossad tentaram, em vão, neutralizar suas ações ao longo dos anos. Com o fim da Guerra Fria, no início da década de 90, a falta de oferta de ações e a sua já debilitada saúde fizeram com que ele se retirasse da vida de terrorista, passando por uma série de países em busca de exílio até fixar-se no único refúgio que lhe restou, um lugar primitivo, o Sudão.

Em 14 de Agosto de 1994, durante o seu internamento em uma clínica em Cartum (capital do Sudão) para uma operação nos testículos, Carlos foi adormecido com anestesia geral, conduzido ao aeroporto e colocado em um avião do governo francês, com destino a uma das cadeias de alta segurança dos arredores de Paris. Não são ainda claras as circunstâncias que levaram o governo do Sudão, um dos países que figurava na lista negra norte-americana dos Estados apoiantes do terrorismo, a entregar Carlos à DST e nem se a operação foi realmente da DST, do governo do Sudão ou se aconteceu em cooperação com outros serviços internacionais. O certo é que no Sudão todo mundo é corrupto e rolou dinheiro nessa operação.


Mais tarde, já durante o seu julgamento pela morte de dois polícias da DST e um denunciante palestino, Carlos nunca mostrou arrependimento pelos ataques que perpetrou. Logo na primeira audiência, questionado pelo presidente do tribunal acerca da sua profissão, respondeu: "Sou um revolucionário profissional na velha tradição leninista". A 23 de Dezembro de 1997 recebeu a sentença de prisão perpétua. Durante o seu julgamento, Carlos foi defendido por vários advogados. O principal foi o advogado francês Jacques Vergès, retratado no filme "O Advogado do Terror" (2007). Ele "aparece" no filme em uma entrevista dada por telefone da prisão. Outro detalhe apresentado no filme foi o seu relacionamento com Magdalena Kopp, com quem teve uma filha.

Em 15 de dezembro de 2011, Ilich Ramírez Sánchez recebeu nova sentença da justiça francesa, pelas mortes de 11 pessoas em atentados terroristas ocorridos na década de 1980. Sua pena foi uma nova prisão perpétua. Em toda a sua vida de terrorista ele teve o suporte da antiga União Soviética, com dinheiro, informações, abrigos, armas, explosivos, etc... Quando perdeu esse apoio, acabou a sua carreira de terrorista. Foi expulso da Síria e o último lugar que lhe sobrou no mundo foi o Sudão.

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