quinta-feira, 5 de abril de 2018

Donald Trump lança incógnita sobre presença de militares dos Estados Unidos na Síria


A Casa Branca informou nesta quarta-feira (4) que os Estados Unidos continuarão na luta contra a facção terrorista Estado Islâmico (EI) na Síria, em recuo do presidente Donald Trump de sua insistência de que os 2.000 soldados americanos deixem o conflito. “A missão militar para erradicar o EI na Síria está chegando a um fim rápido, com o EI quase totalmente destruído”, disse a porta-voz, Sarah Huckabee Sanders, em um comunicado um dia depois de uma reunião de Trump com os comandantes militares para discutir o futuro da missão:  “Os Estados Unidos e nossos parceiros continuam comprometidos com eliminar a pequena presença do Estado Islâmico na Síria que nossas forças ainda não erradicaram". 

Em guerra civil desde 2011, quando rebeldes lançaram uma campanha contra o regime de Bashar al-Assad, a Síria se tornou um teatro de operações que envolve interesses geopolíticos de vizinhos —como o Irã e a Turquia — e potências como Estados Unidos e Rússia. A declaração indicou que os principais assessores militares do presidente, que defendiam a necessidade de derrotar o EI e garantir que a milícia não recupere sua base na região, tiveram êxito — pelo menos por ora — em convencer o comandante-em-chefe impaciente a não ordenar uma retirada rápida.

Foi o último caso em que um comentário imprevisto do presidente com extensas implicações provocou uma correria de seus assessores para traduzir o discurso improvisado em uma política oficial do governo. Autoridades da Casa Branca e do governo também passaram as segunda e a terça-feiras (2 e 3) tentando traduzir uma série de confusos comentários presidenciais sobre imigração, incluindo um novo esforço legislativo e a mobilização da Guarda Nacional na fronteira sul, em uma estratégia coerente.

A declaração foi feita um dia depois que Trump deixou clara sua intenção de retirar as tropas, afirmando que os Estados Unidos essencialmente venceram a batalha contra o Estados Islâmico e dizendo que “às vezes é hora de voltar para casa”. “Eu quero sair — quero trazer nossos soldados para casa”, disse Trump na terça-feira durante uma entrevista coletiva com líderes dos países bálticos. “Está na hora. Nós tivemos um grande êxito contra o Estados Islâmico".  Apesar de Trump manifestar entusiasmo por combater o Estados Islâmico, ele recua para a posição de “os Estados Unidos primeiro” que defendeu quando era candidato, esperando afastar o país de envolvimento militar no exterior. 


A decisão ocorre quando a equipe de segurança nacional está mudando e dividida sobre o que fazer na Síria. O presidente demitiu seu secretário de Estado, Rex Tillerson, no mês passado, e o assessor de segurança nacional, tenente-general H.R. McMaster, está de saída, pois Trump decidiu substituí-lo por John Bolton. Embora Trump tenha pressionado intensamente pela retirada das tropas e a redução do envolvimento dos Estados Unidos, autoridades do Pentágono insistiram nos últimos dias contra uma saída total das tropas americanas da Síria. 

Elas indicaram a ascensão do Estados Islâmico no Iraque depois que o ex-presidente muçulmano Barack Obama retirou as tropas do país como um precedente que, segundo eles, formou a base para o florescimento da facção terrorista lá. Autoridades do Departamento de Defesa dizem que os sacrifícios feitos pelos militares americanos na Síria poderão ser anulados se as tropas saírem precipitadamente. “Um grande progresso militar foi feito nos últimos anos”, disse o general Joseph Votel, principal oficial no Comando Central militar, durante uma conferência em Washington na terça-feira. 

“Mas, repito, acho que a parte difícil está à nossa frente, e é estabilizar essas áreas, consolidar nossas conquistas, colocar as pessoas de volta em suas casas, abordar os problemas em longo prazo da reconstrução e outras coisas que terão de ser feitas”, disse Votel. O coronel Ryan Dillon, porta-voz da coalizão liderada pelos Estados Unidos no Iraque e na Síria, disse que o Estado Islâmico ainda detém território no vale médio do rio Eufrates e comentou que tentar extirpar os militantes que restam se tornou difícil pois as operações ofensivas praticamente cessaram na área.

O ritmo lento da campanha deriva da perda dos curdos sírios — o principal aliado dos militares americanos na luta contra o Estados Islâmico — para uma nova luta contra tropas turcas na região noroeste do país. As operações “não estão acontecendo no ritmo de um mês e meio atrás”, disse Dillon. O presidente surpreendeu até seus assessores na semana passada quando disse publicamente que os Estados Unidos retirariam em breve as tropas da Síria.  Trump estava em Ohio fazendo comentários sobre política comercial quando se desviou do assunto e disse: “Estamos arrasando com o Estados Islâmico”, e acrescentou: “Vamos sair da Síria, creio, muito em breve. Que outras pessoas cuidem de lá agora”. No dia seguinte, Trump orientou o Departamento de Estado a suspender a ajuda financeira à Síria enquanto seu governo reconsidera sua política. 

Na terça-feira, ele disse que estava consultando aliados e em breve poderia anunciar uma nova política. A Casa Branca disse que o presidente falou na segunda-feira com o rei Salman, da Arábia Saudita, e “discutiu esforços conjuntos para garantir a derrota duradoura do Estado Islâmico e contra-atacar as iniciativas do Irã para explorar o conflito sírio e seguir suas ambições regionais desestabilizadoras”. Em sua entrevista coletiva na terça, Trump fez um relato mais preciso da conversa, sugerindo que o rei o havia pressionado a manter a presença militar dos Estados Unidos na Síria, embora ele fosse contra. “Eu disse: ‘Bem, você sabe, você quer que nós fiquemos, talvez você tenha de pagar’”, afirmou Trump.

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