terça-feira, 3 de abril de 2018

Príncipe herdeiro da Arábia Saudita diz que Israel tem direito a existir, é mais um decisivo passo para estabelecimento de relações diplomáticas


O príncipe saudita Mohammed bin Salman, herdeiro do trono de seu país, defendeu o direito de Israel de existir e foi além: insinuou o estabelecimento de relações diplomáticas entre seu reino e o Estado judeu, até há pouco inimigos quase existenciais. Na verdade, essa tendência ficou explícita desde o momento em que Donald Trump visitou o país e voou dali direto a Israel. Ele discutiu com os altos dirigentes da Arábia Saudita o entendimento entre os dois países, para o enfrentamento comum ao Irã e também o lançamento de novas bases para um acordo com os palestinos. Provavelmente com a cedência de terras no Sinai para a construção do novo Estado nacional palestino“. Acredito que cada povo, em qualquer parte, tem o direito de viver em sua pacífica nação; acredito que os palestinos e os israelenses têm o direito de ter a própria terra”, declarou Mohammed bin Salman, governante “de facto” da Arábia Saudita. A declaração dele foi dada à revista americana The Atlantic, em entrevista publicada nesta segunda-feira. 

O príncipe foi muito simpático em relação a Israel: “Israel é uma grande economia, comparada com a dimensão do país, e é uma economia em crescimento. É natural que haja uma porção de interesses que compartilhamos com Israel". Mohammed bin Salman condicionou o restabelecimento de relações a um acordo de paz entre Israel e os palestinos, no que apenas reitera ponto central do plano de paz que os sauditas já haviam apresentado em 2002. No essencial, o plano previa a devolução aos palestinos de territórios ocupados por Israel, em troca da normalização das relações do mundo árabe com Israel. A novidade na entrevista de Mohammed bin Salman é o reconhecimento do direito à existência de Israel quando está cada vez mais distante a hipótese de um acordo com os palestinos. Mas isso é compreensível diante da enorme influência do Irã no Iêmen e do perigo que isso representa para a Arábia Saudita. Dezenas de mísseis têm sido lançados do Iêmen contra Riad, capital do reino saudita. Portanto, a Arábia Saudita precisa se aliar à outra potência econômica e militar regional com capacidade de confrontar com o regime teocrático iraniano, que é Israel. E inclusive ceder bases e autorização para que aviões caças e bombardeiros de Israel possam usar seu espaço aéreo em incursões sobre o Irã. Israel está tecnicamente em guerra com dois de seus quatro vizinhos (Síria e Líbano) e só tem acordos de paz com Egito e Jordânia. Todos os demais países árabes se consideram inimigos de Israel. Síria e Líbano, atualmente, são bonecos de mola do regime iraniano, também gerando grande perigo para a continuidade da monarquia na Arábia Saudita. 

Como a Arábia Saudita lidera significativa parte do mundo árabe-muçulmano, uma aproximação com Israel mudaria a retórica inflamatória no relacionamento com esse mundo. E tem mais: mudaria radicalmente a geopolítica internacional, e o modo como o esquerdismo da mídia mundial vê Israel, e dos organismos mundiais também. Um indicativo poderoso disso é que, na mesma entrevista, Mohammed bin Salman disse que o líder supremo do Irã, o aiatolá xiita Ali Khamenei, faz "“Hitler parecer bom”. E acrescentou: “Khamenei é o Hitler do Oriente Médio”. Os sauditas são, na maioria, sunitas, ao passo que o Irã é um país de maioria xiita —os dois grandes ramos do Islã. A doutrina sempre citada como a oficial da Arábia Saudita é o wahabismo, baseado nos ensinamentos radicais de Muhammad ibnAbd al-Wahhab (1703-1792). Tem sido apontada como uma das principais influências para o terrorismo islâmico. Mas isso está mudando radicalmente. Além de se aproximar de Israel, o príncipe Mohammed bin Salman pretende mudar essa imagem, confirme declarou a investidores em outubro passado: “Estamos retornando ao que éramos antes, um país de islamismo moderado que esteja aberto a todas as religiões e ao mundo”. O aceno a Israel se encaixa à perfeição nessa promessa. Leia a íntegra da entrevista em inglês no link a seguir https://www.theatlantic.com/international/archive/2018/04/mohammed-bin-salman-iran-israel/557036/

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