terça-feira, 1 de julho de 2014

O PT AMAVA OS DEFEITOS DE JOAQUIM BARBOSA E ODIAVA AS QUALIDADES. OU: MINISTRO FEZ SEU TRABALHO COM DIGNIDADE. OU AINDA: ARROUBOS DE TEMPERAMENTO TÊM CURA: ROMBOS DE CARÁTER, NÃO!

Barbosa: o PT o queria como esbirro, e ele foi minitro
Barbosa: o PT o queria como esbirro, e ele foi minitro
Pronto! Joaquim Barbosa está fora do Supremo Tribunal Federal. Ainda que o tenha feito por vontade e determinação pessoal, muita gente suspira aliviada, nem tanto porque se sentisse ameaçada por ele — não havia como ameaçar ninguém —, mas porque se sentia traída. Assim: a gritaria contra Joaquim Barbosa — não a crítica justa, que pode ser feita — corresponde a uma algaravia de interesses contrariados e a ódios que traduzem nada mais do que má consciência. Então vamos ver.
O meu blog existe há oito anos. O arquivo está disponível a quem queira consultá-lo. Nunca fui e não sou um fã nem do estilo nem de algumas idéias de Joaquim Barbosa. Acho que seu temperamento um tanto irascível o atrapalhou — e à necessária harmonia dos trabalhos no Tribunal — mais de uma vez. Ele cultiva certa intolerância pessoal com a divergência, e já o vi repelir com acidez até argumentos que concorriam para a sua tese porque nem sempre é um ouvinte prudente. Não concordo também, e já evidenciei isso aqui, com algumas de suas teses sobre racismo — o que, e não me sinto obrigado a provar, nada tem a ver com a cor da sua pela e a da minha.
Mas esperem aí: a gritaria que se armou contra Joaquim Barbosa se deveu a seu temperamento? Ou ao eventual descumprimento de rituais processuais ou mesmo ao entendimento prejudicado desse ou daquele princípios? Uma ova! A máquina de desqualificação montada pelo petismo e por outros setores da esquerda o atacou em razão de suas virtudes, não de seus eventuais defeitos. É mentira que o julgamento do Mensalão tenha recorrido a instrumentos de exceção. É mentira que tenha sido ele — e nem poderia — a manipular tais instrumentos. É mentira que se tenha usado com petistas uma régua e uma conjunto de regras particulares. Isso tudo é obra da guerra política mais rasteira.
Se Lula, no passado, indicou ou não Joaquim Barbosa porque decidiu exercer a seu modo uma política de cotas, isso não é de responsabilidade do ministro. O fato é que os petistas tentaram — e um mensaleiro chegou a vocalizar isto — cobrar do então ministro uma espécie de dívida. Já que Lula teria levado o primeiro negro para o Supremo (é mentira: antes, houve Pedro Lessa e Hermenegildo de Barros), que este então lhe fosse grato, votando conforme as vontades e as necessidades do PT. E, como é sabido, Joaquim Barbosa não caiu no truque. O ex-deputado João Paulo Cunha, o mensaleiro condenado, não teve vergonha nenhuma de dizer publicamente: “Barbosa chegou ao Supremo porque era compromisso nosso, do PT e do Lula, de reparar um pedaço da injustiça histórica com os negros”.
Entenderam a alma profunda de um petista? Já que Lula levou um negro para o Supremo, a melhor maneira que esse negro tem de demonstrar que é livre é violando a sua própria consciência para ser grato a quem o indicou. É espantoso que algo assim tenha sido dito. E foi. Nos bastidores, então, o inconformismo dos companheiros com Joaquim Barbosa, cujo nome sempre vem associado a palavrões que não se dizem nem em estádios e a acusações de traição, chega a ser patológico. Não por acaso, ele se tornou o principal alvo do que chamo “Al Qaeda Eletrônica” — as milícias petistas que atuam nas redes sociais.
Curiosamente, quando os petistas cantavam as glórias de Joaquim Barbosa — consultem os arquivos; isso aconteceu —, eles o faziam porque tinham grande apreço por seus defeitos. Quando passaram a demonizá-lo, tinham ódio de suas virtudes.
Assim, tudo somado e subtraído, com agravantes e atenuantes (para fazer uma blague…), o saldo da passagem de Joaquim Barbosa pelo Supremo lhe é amplamente favorável e também ao País. Em um dado momento, uma poderosa coordenação de forças atuou de modo deliberado para desmoralizar o Supremo e o Judiciário como um todo, alvos permanentes de correntes autoritárias que estão no poder em vários países da América Latina.
Lula é hoje um desafeto pessoal de Joaquim Barbosa porque descobriu que este acabou se tornando o homem certo, no lugar certo e no momento certo — sempre levando em conta os interesses do País, não os do próprio Lula e do PT. O tempo dirá que não conseguiremos dizer o mesmo de muito engomadinho de fala mansa. Arroubos de temperamento podem ser controlados. Rombos de caráter não têm cura. Joaquim Barbosa fez o seu trabalho com dignidade. Por Reinaldo Azevedo

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